Publicação, coordenada pelo pároco, concilia investigação académica e testemunhos revelando aspectos da vida e da história desta comunidade, uma das mais antigas da ilha de São Miguel
“Paróquia das Capelas – História, Património e Vivências” é o título do livro, coordenado pelo pároco das Capelas, padre Hélio Soares, que será lançado no dia 24 de julho, às 20h00, na Igreja Matriz, integrado no âmbito do projecto DIO 500, que está a elaborar a história religiosa dos Açores com vista à comemoração dos 500 anos da diocese de Angra, em 2034.
A apresentação do livro estará a cargo da Diretora do secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, Fátima Eusébio, que também colabora na publicação com um estudo iconográfico da pintura das Almas do Purgatório.
A obra insere-se nas comemorações dos 430 anos da criação desta paróquia, na costa norte da ilha, uma das comunidades mais antigas de São Miguel, criada por força de uma carta régia do Rei D. Filipe I de Portugal, datada de 11 de julho de 1592, e confirmada a 18 de novembro do mesmo ano pelo bispo diocesano.
Esta edição da Letras Lavadas, chancelada pelo Conselho Pastoral Paroquial, que aceitou o repto do pároco, e apoiada por várias entidades, desde logo inserida no âmbito do projecto DIO500, que estuda a história da vivência religiosa nos Açores, cumpre três objectivos como assinala na introdução o padre Hélio Soares: “estudar, registar e divulgar”.
“Inserindo‐se nos objetivos gerais do Projeto DIO 500: História Religiosa dos Açores, que visa estudar a presença cristã nestas ilhas dos Açores desde o povoamento ao início do séc. XXI, preparando a celebração dos 500 anos da criação da Diocese de Angra (1534‐2034) procuramos dar o nosso contributo para este projeto mais vasto”, refere o sacerdote que também integra a equipa do projecto DIO 500, liderado por Susana Goulart Costa, também ela autora de um texto desta publicação.
“Ao longo dos já 432 anos temos gerações e gerações de capelenses que celebraram e continuam a viver a sua Fé nesta comunidade” prossegue o sacerdote que justifica a iniciativa como a materialização do reconhecimento dessa história, composta por “diferentes dimensões das nossas vivências coletivas”.
“Neste período de três anos, vários foram os constrangimentos para a concretização da publicação, mas todos foram superados. A todos agradeço a sua colaboração, persistência e tenacidade” refere o coordenador, que é professor convidado na Universidade dos Açores e investigador.
O livro é composto por duas partes: estudos e testemunhos e integra um amplo conjunto de textos que explora a interseção entre história, arte, património e vivências religiosas da paróquia. Por isso, constitui-se também como uma forma de celebração dos elementos identitários que moldam e enriquecem esta comunidade secular ao longo do tempo. Ao nível dos estudos, há dez textos escritos por autores, com vínculos institucionais distintos.
“O intuito destes textos é estudar, mesmo que numa primeira abordagem, as potencialidades do nosso património edificado, integrado, móvel e arquivístico que nos foi legado e podemos apreciá‐lo na nossa Paróquia”, refere o padre Hélio Soares, ressalvando que “todos os estudos revelam investigação nova ou uma nova abordagem às investigações já realizadas.
A segunda da parte do livro é composta por vinte e três testemunhos.
“Num primeiro momento desafiamos a membros da comunidade a participar, surgindo algumas iniciativas; num segundo momento, convidamos várias pessoas a colaborar, tendo como critério a representação duma área da pastoral, de algum grupo paroquial ou de outra pertença” explica ainda o coordenador da obra.
“Estes vinte e três textos têm um grande pendor testemunhal. No entanto, conseguem fazer retratos subjetivos da vida paroquial dos últimos cinquenta anos” acrescenta sublinhando que, em muitas situações, estes testemunhos “são a única fonte para perceber a vida paroquial nos diferentes períodos, desde o final do séc. XX à atualidade”.
Aliás, na parte dos Testemunhos emergem autênticos registos de arquivo que, futuramente, “poderão constituir-se como anexos de outros estudos” refere no posfácio Rute Gregório.
O sacerdote espera que este livro estimule o “sentido de pertença à comunidade cristã das Capelas” e que cada um “se sinta como herdeiro e construtor da mesma”.
“Quem escreve grava um sonho no papel”, refere o bispo de Angra que prefacia o livro, lugar onde se sonha “o Reino de Deus, onde todos têm parte, onde cada um tem espaço para valorizar os dons que Deus lhe deu e colocá‐los ao serviço dos irmãos de caminho”.
“Não se trata apenas de um rico e digno património religioso e cultural. Aqui há um notável esforço de relatar o passado, mas também de leitura do presente em todas as expressões humanas das pessoas que habitaram e habitam este território. Há ainda sonho de futuro” refere D. Armando Esteves Domingues.
O prelado aproveita a oportunidade para, uma vez mais, sublinhar a importância destes contributos para a transmissão da fé, um dos desafios mais urgentes neste novo milénio.
“As correias de transmissão parecem muito encalhadas e, o que era normal na família, como a oração, a vivência comunitária do domingo, a naturalidade de socorrer os mais pobres, etc., parece não se estar a garantir” escreve o bispo de Angra ao reconhecer que cada constrói a “sua” própria versão da história, ainda que seja a história de um lugar ou de uma sociedade, a partir das suas vivências.
“Nunca esquecemos a primeira turma da escola, o grupo de catequese e primeira comunhão, o grupo do crisma, a equipa de futebol, a filarmónica. Não esquecemos porque fazemos experiência, somos protagonistas, envolvidos emocionalmente e esses sentimentos permanecem para sempre. As experiências marcam a alma como as letras as páginas de um livro, não se apagam”, constata.
“As comunidades cresceram e crescem não só pela celebração dos sacramentos e pregação da palavra de Deus, mas também através de projetos de homens e mulheres que, no espaço físico das paróquias, souberam encarnar a fé e dar‐lhe expressão Comunitária”, diz ainda.
D. Armando Esteves Domingues lembra que é preciso “reconstruir” esta forma de “caminhar juntos, sem deixar ninguém para trás”.
“Foi isto que enraizou as comunidades do passado, em que faziam todos o mesmo e mais ou menos de igual forma, no necessário respeito pelas diferenças e na arte de construir a harmonia na diversidade”.
“São tantas as “flores” do canteiro de Capelas que, se for o Espírito Santo o verdadeiro protagonista de cada grupo paroquial, o concerto será uma obra de arte que comunicará Deus”, conclui, lembrando que este livro é também uma espécie “de anúncio” evangelizador.
“Que este livro traga à Igreja de Capelas o zelo apostólico capaz de conversão pastoral aos adormecidos ou envelhecidos na sua fé. Oxalá reavive as vocações batismais em todas as áreas da vida humana, em ordem a uma nova e mais amadurecida transmissão da fé, também em nlinguagem culturalmente atualizada”.
A entrada na sessão de lançamento e apresentação da obra, no dia 24 de julho, pelas 20h00, na Igreja Matriz das capelas é livre.