Comunidade celebra 500 anos da Igreja e quer formar leigos para serem “sinal de contradição e acolhimento” no mundo atual
O Dia era de festa em Santo António, na ouvidoria das capelas, não só pelo festejo em honra do seu padroeiro mas pela comemoração dos 500 anos da sua Igreja. Embora não se saiba ao certo a data da construção do templo, alguma investigação histórica leva a crer que a Igreja seja anterior a 1524, data em que Gaspar Fructuoso, no livro Saudades da Terra, considera que “já havia cura neste lugar”.
500 anos depois, e com uma mudança progressiva de identidade- “deixámos de ser uma paróquia eminentemente rural para sermos uma paróquia dormitório”, como refere o pároco, padre Horácio Dutra-, os “desafios são inúmeros”.
“Procuramos despertar para novas formas de dizer e viver a religião. Mais do que anunciar, que é fundamental, temos de ser Igreja e dar testemunho daquilo em que acreditamos. Por isso, não nos devemos prender com questões menores; temos de regressar a Jesus e fazer como Ele” refere o sacerdote, que há 14 anos serve esta comunidade e a de Santa Bárbara, paróquias vizinhas que se debatem com o mesmo problema.
“Os traços da ruralidade hoje são contagiados por novas culturas absorvidas no meio urbano onde a maior parte dos residentes trabalha e a Igreja tem de saber dialogar com este mundo e com estas questões”, refere ainda o padre Horácio Dutra que é, também, professor de Educação Moral e Religiosa Católica.
“Temos 200 crianças na catequese mas também procuramos formar leigos para serem bons cristãos, isto é, gente que possa ser sinal de contradição no mundo atual marcado pela indiferença e pela exclusão”, disse ainda.
“Por vezes estamos muito preocupados com o número de pessoas que temos na Igreja… No tempo de Jesus eram 12 e eles foram o fermento; é isso que temos de ser hoje” refere o padre Horácio, como é conhecido por todos.
“Mais do que apresentarmos a Igreja é preciso ser e viver Igreja; muitos dos jovens não se sentem Igreja porque nós não estamos a conseguir formar cristãos conscientes”, acrescentou ainda.
Esta quinta-feira a paróquia festejou o seu padroeiro e o ambiente festivo terminou num convívio no largo da Igreja. Antes o Vigário-geral, cónego Gregório Rocha, desafiou os santoantonenses a serem “sal da Terra”.
“O Evangelho, que é sempre atual, diz-nos hoje que precisamos que a Palavra de Deus promova uma verdadeira relação com jesus e que dessa relação nasça uma verdadeira conversão de forma a que contagiados por Ele possamos ser sal da Terra.
Na homilia da concelebração, o sacerdote lembrou que a “Palavra de Deus na vida de um cristão é como o Pão que sacia e fortalece e que, alimentando a nossa fé, nos transforma no Sal que tempera o mundo, trazendo para o mundo os valores do evangelho: fraternidade, acolhimento, atenção aos excluídos e frágeis, aos pobres e doentes”, afirmou o cónego Gregório Rocha.
No final da celebração foi benzido o “Pão de Santo António”, uma tradição popular neste e noutros locais onde se celebra o santo nascido em Lisboa.
O Pão de Santo António é comprado para que nunca falte comida em casa. É benzido e deve ser guardado durante um ano para ser comido no ano seguinte, no dia 13 de junho.