PARA O ADVENTO (3ª SEMANA) – DAS HOMILIAS DO PAPA BENTO XVI

À ESPERA DE DEUS.

A palavra que resume esta condição particular, em que se espera algo que deve manifestar-se, mas que ao mesmo tempo se entrevê e se antegoza, é “esperança”. O Advento é por excelência a temporada da esperança, e nele a Igreja inteira é chamada a tornar-se esperança, para si mesma e para o mundo. Sobre este tema sugestivo da «expectativa» agora gostaria de meditar brevemente, porque se trata de um aspecto profundamente humano, em que a fé se torna, por assim dizer, um só com a nossa carne e o nosso coração.

A expectativa, a espera é uma dimensão que atravessa toda a nossa existência pessoal, familiar e social.

A espera está presente em mil situações, desde as mais pequenas e banais, até às mais importantes, que nos empenham total e profundamente.

Entre elas, pensamos na espera de um filho da parte de dois esposos; na espera de um parente ou de um amigo que vem visitar-nos de longe; pensamos, para um jovem, na expectativa do êxito de um exame decisivo, ou de um colóquio de trabalho; nos relacionamentos afectivos, na espera do encontro com a pessoa amada, da resposta a uma carta, ou do acolhimento de um perdão…

Poder-se-ia dizer que o homem está vivo enquanto espera, enquanto no seu coração estiver viva a esperança. É das suas expectativas que o homem se reconhece: a nossa «estatura» moral e espiritual pode ser medida a partir daquilo que aguardamos, daquilo em que esperamos.

Na sua vida, o homem está constantemente à espera: quando é menino, deseja crescer; quando é adulto, tende para a realização e o sucesso; na idade avançada, aspira ao merecido descanso. Mas chega a hora em que ele descobre que esperou demasiado pouco se, para além da profissão ou da posição social, nada mais lhe resta para esperar.

A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos ela é animada por uma certeza: o Senhor está presente no fluxo da nossa vida, acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz.

Portanto, cada um de nós, especialmente neste Tempo que nos prepara para o Natal, pode perguntar-se: e eu, o que espero? Para que propende, neste momento da minha vida, o meu coração? E esta mesma interrogação pode fazer-se a nível familiar, comunitário e nacional. O que esperamos, juntos? O que une as nossas aspirações, o que as une?

No tempo precedente ao nascimento de Jesus, era extremamente intensa em Israel a espera do Messias, ou seja, de um Consagrado, descendente do rei David, que finalmente teria libertado o povo de toda a escravidão moral e política, instaurando o Reino de Deus. Mas jamais ninguém teria imaginado que o Messias pudesse nascer de uma jovem humilde como era Maria, noiva do justo José. Nem sequer ela mesma jamais teria pensado, e no entanto no seu coração a expectativa do Salvador era tão grande, a sua fé e a sua esperança eram tão fervorosas, que Ele pôde encontrar nela uma mãe digna.

No entanto, existem modos muito diferentes de esperar.

Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto.

Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso.

Queridos irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, em que já nos são concedidos os dons do Senhor, vivamo-lo projectados para o futuro, um porvir repleto de esperança.

Queridos amigos, o Advento é o tempo da presença e da espera eterna. Precisamente por esta razão é, de modo particular, o tempo da alegria, de um júbilo interiorizado, que nenhum sofrimento pode anular. A alegria pelo facto de que Deus se fez Menino.

Excertos de textos das homilias nas primeiras vésperas de Advento (2005-2010)

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