O Papa voltou a descartar o cenário de uma renúncia ao pontificado, em conversas com jesuítas africanos, divulgadas hoje pela revista ‘Civiltà Cattolica’, da Companhia de Jesus.
“Os Papas demissionários não se devem tornar, digamos assim, uma moda, algo normal”, referiu Francisco, durante a sua viagem à República Democrática do Congo (RDC) e Sudão do Sul, que decorreu entre 31 de janeiro e 5 de fevereiro.
O programa nos países africanos incluiu encontros privados, em cada uma das capitais, com religiosos jesuítas.
Um dos participantes questionou o Papa sobre a carta que escreveu, com a sua resignação, dois meses após a eleição pontifícia, em 2013, entregue ao então secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone.
“Não sei onde se encontra essa carta. Fi-lo para o caso de ter algum problema de saúde que me impeça de exercer o meu ministério e de estar plenamente consciente para poder renunciar”, precisou.
Francisco recordou o seu antecessor, Bento XVI, que renunciou ao pontificado em fevereiro de 2013, destacando a “coragem” deste decisão.
[Bento XVI] Sentia que não conseguia seguir em frente, por causa da saúde. Eu, de momento, não tenho isso na agenda, eu acredito que o ministério do Papa é ‘ad vitam’ (para a vida). Não vejo razões para que não deva ser assim, pensem que o ministério dos grandes patriarcas é sempre para a vida e a tradição histórica é importante”.
O Papa destacou que, caso se tomassem decisões com base na “maledicência”, seria preciso “mudar a cada seis meses”.
“Não me passou pela mente [a renúncia]”, repetiu no Sudão do Sul, recordando que o Papa Pio XII, durante a II Guerra Mundial (1939-1945) escreveu uma carta de renúncia “para o caso de ser levado por Hitler para a Alemanha”.
“Assim, dizia, teria sido capturado Eugenio Pacelli e não o Papa”, precisou.
O primeiro Papa jesuíta da história revela ter recusado, em duas ocasiões, nomeações episcopais na Argentina, cumprindo o voto de não aceitar papéis de autoridade na Igreja, tendo sido nomeado auxiliar da Diocese de Buenos Aires apenas após uma autorização explícita do então responsável mundial pela Companhia de Jesus (Peter Hans Kolvenbach), “em espírito de obediência”.
Nos encontros com os religiosos jesuítas, Francisco evocou os conflitos em curso na Síria, Iémen, Mianmar, América Latina ou Ucrânia.
“Será que a humanidade terá coragem, força ou mesmo oportunidade de voltar atrás? Segue-se em frente, em frente, rumo ao abismo. Não sei: é uma pergunta que me faço. Lamento dizer isto, mas sou um pouco pessimista”, admitiu.
No regresso da sua quinta viagem a África, Francisco confirmou que vai visitar Lisboa, este ano, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), falando aos jornalistas sobre as suas próximas viagens.
“Sobre as viagens: acho que a Índia será no próximo ano. Vou a Marselha (França) no dia 23 de setembro, e há a possibilidade que, de Marselha, voe para a Mongólia, mas ainda não foi definido, é possível. Outra este ano, não me lembro… Lisboa. O critério: escolhi visitar os países pequenos da Europa”, referiu, em conferência de imprensa no voo de regresso a Roma.
A próxima edição internacional da Jornada Mundial da Juventude vai decorrer pela primeira vez em Portugal, de 1 a 6 de agosto.
Francisco, que esteve em Fátima, nas celebrações do 13 de maio de 2017, assumiu que a sua prioridade é conhecer “os pequenos” e a “Europa escondida, a Europa que tem tanta cultura, mas que não é conhecida”.
Questionado sobre os problemas que o têm afetado no joelho, o Papa brincou com a situação e disse que “erva daninha não morre”.
Aos 86 anos de idade, Francisco precisou que não está “como no início do pontificado”, a 13 de março de 2013.
“Este joelho incomoda, mas vai lentamente, então veremos”, declarou.
O Código de Direito Canónico, prevê a possibilidade jurídica de renúncia por parte do Papa e esta renúncia não precisa de ser aceite por ninguém para ter validade, como indica o Cânone 332.
O que se exige é que o Papa renuncie livremente e que manifeste a sua decisão de modo claro e público.
(Com Ecclesia)