O Papa reforçou hoje a ideia de que uma eventual renuncia ao pontificado é “uma porta aberta”, mas descartou o cenário, no imediato, assumindo a necessidade de “poupar” esforços, face às limitações físicas.
“A porta está aberta, é uma opção normal, mas até hoje não bati a essa porta”, disse aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, após a viagem que realizou ao Canadá, entre domingo e sexta-feira.
“Isso não quer dizer que depois de amanhã não comece a pensar, não é? Mas neste momento, sinceramente, não”, acrescentou.
Francisco, de 85 anos, tem sido afetado por problemas no joelho, que o levaram a deslocar-se em cadeira de rodas, durante esta visita.
Questionado sobre se a viagem ao Canadá foi um teste às suas capacidades físicas, o Papa admitiu que é impossível “continuar com o mesmo ritmo de viagem de antes”.
“Acredito que, na minha idade e com esta limitação, tenho de poupar-me um pouco para poder servir a Igreja. Depois, pelo contrário, posso pensar na possibilidade de me afastar: isso, com toda a honestidade, não é uma catástrofe, podemos mudar o Papa, é possível mudar, não há problema. Mas acho que tenho de limitar um pouco estes esforços”, declarou.
O Papa explicou que colocou de lado a possibilidade de uma cirurgia ao joelho, por causa das sequelas da anestesia da operação ao cólon, em julho de 2021.
“Vou tentar continuar a viajar e estar perto das pessoas, porque acredito que é uma forma de servir: proximidade. Mas mais do que isso eu não quero dizer, vamos esperar”, realçou.
Francisco assumiu que “gostaria” de visitar a Ucrânia, confirmando uma viagem ao Cazaquistão, a 14 e 15 de setembro, para um congresso de líderes religiosos.
“Por enquanto tudo se mantém”, assinalou.
O Papa apontou ainda à visita ao Sudão do Sul, com responsáveis cristãos da Inglaterra e Escócia, observando que a viagem à República Democrática do Congo, inicialmente prevista para este mês de julho, terá de ser adiada para 2022, por causa da “época das chuvas”.
“Eu tenho toda a boa vontade, mas vamos ver o que a perna diz”, indicou.
Vários jornalistas insistiram em questões ligadas à renúncia e eventual sucessão papal, a que Francisco respondeu com a necessidade de “discernimento”, à luz da sua espiritualidade jesuíta.
“O que o Senhor dizer. O Senhor pode dizer: ‘renuncia’. É o Senhor quem manda”, prosseguiu.
“Esta viagem foi uma espécie de teste. É verdade que não se pode viajar neste estado, talvez seja preciso mudar um pouco o estilo, diminuir, saldar as dívidas das viagens que ainda faltam fazer, reorganizar. Mas caberá ao Senhor dizê-lo. A porta está aberta, isso é verdade”.
O Papa agradeceu aos jornalistas pelo seu trabalho e elogiou o “belo artigo” sobre a sua eventual demissão, ligando “todos os sinais que poderiam levar a uma renúncia e todos aqueles que estão a aparecer”.
Em causa, por exemplo, estão a deslocação a Aquila, onde está sepultado Celestino V (1215-1296), pontífice que governou a Igreja Católica apenas durante alguns meses, em 1294, antes de renunciar, e a convocação de um consistório, para a criação de novos cardeais, ambas no final de agosto.
“Saber ler os sinais ou pelo menos fazer um esforço de interpretação, que pode ser este ou aquele, este é um belo trabalho pelo qual muito agradeço”, disse Francisco.
A conversa abordou ainda a declaração da Santa Sé sobre o Caminho Sinodal da Alemanha, com o Papa a assumir que foi “um erro” que a Secretaria de Estado do Vaticano não tivesse assinado o texto, mas descartando qualquer “má vontade”.
“Escrevi uma carta, sozinho: um mês com oração, reflexão, consultas. E disse tudo o que tinha a dizer sobre o Caminho Sinodal, mais do que isso não direi e esse é o magistério papal sobre o Caminho Sinodal”, acrescentou, citando a missiva que assinou em 2019.
O Papa foi ainda questionado sobre a queda do governo de Mario Draghi, na Itália, pedindo “responsabilidade cívica” às forças políticas do país, perante as eleições gerais antecipadas para 25 de setembro.
(Com Ecclesia)