O Papa sublinhou hoje a necessidade de “reconciliação” para um mundo em guerra, das relações pessoais ao cenário internacional.
“Sou um tecelão de reconciliação? Comprometo-me a desarmar conflitos, a trazer perdão onde há ódio, paz onde há ressentimento? Ou caio no mundo das intrigas, que matam sempre, sempre? Jesus procura em nós testemunhas para o mundo destas suas palavras: ‘A paz esteja convosco’”, disse, na homilia da Missa do Domingo da Divina Misericórdia, celebrada na Basílica de São Pedro.
Francisco destacou que cada católico “recebeu o Espírito Santo no Batismo para ser homem e mulher de reconciliação”.
A Eucaristia foi presidida pelo arcebispo D. Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização (Santa Sé), tendo Francisco participado, sentado, num espaço lateral do presbitério.
Francisco, de 85 anos, suspendeu todas as suas atividades nesta sexta-feira para realizar exames médicos, devido aos problemas que o têm afetado no joelho; já na Vigília Pascal, a 16 de abril, a presidência da celebração coube ao cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício.
O Papa leu a homilia da Missa desta manhã, desde uma posição mais central na Basílica, para onde se deslocou com ajuda, destacando a saudação de Jesus aos seus discípulos, após a ressurreição: “A paz esteja convosco!”.
Cristo, sublinhou, “vem ao encontro de todas as fraquezas e erros humanos”.
Se cuidarmos das feridas do próximo e derramarmos misericórdia sobre ele, renasce em nós uma nova esperança, que nos consola no cansaço”.
A intervenção aludiu a uma “alegria especial” oferecida pela misericórdia de Deus, a “alegria de sentir-se perdoado gratuitamente”.
Os discípulos, indicou o Papa, tinham cometido o “grande pecado” de “deixar Jesus sozinho no momento mais trágico”, mas encontraram alegria no “olhar do Senhor, onde não há severidade, mas misericórdia”.
Depois deste momento, “não apenas recebem misericórdia, mas tornam-se dispensadores da mesma misericórdia que receberam”.
“Nada pode ser como antes para quem experimenta a alegria de Deus. Esta alegria muda-nos”, realçou.
Falando aos participantes na celebração, que marca o II Domingo da Páscoa, o Papa afirmou que “Deus perdoa sempre” e os missionários da misericórdia devem ser “canais” desse perdão.
O Papa evocou os “momentos difíceis” na vida de cada crente, em que a fé parece entrar “em crise”.
“A misericórdia de Deus, nas nossas crises e nos nossos esforços, coloca-nos muitas vezes em contacto com os sofrimentos do próximo”, apontou.
“Perguntemo-nos se nos últimos tempos tocamos as feridas de alguém que sofre no corpo ou no espírito; se trouxemos paz a um corpo ferido ou a um espírito quebrantado; se passamos algum tempo ouvindo, acompanhando, consolando”, acrescentou.
Durante a celebração, os participantes apresentaram uma intenção especial de oração pelos povos em conflito: “Que a tua misericórdia, Senhor, alcance os povos da terra dilacerados pela guerra, para que o dom da paz, que brota do Crucifixo ressuscitado, chegue ao coração de cada homem e se restabeleça a harmonia e a justiça entre as nações”.
Em português, a assembleia pediu que Deus “dirija os desígnios e opções dos políticos e governantes para o bem comum, a fim de promoverem a dignidade humana através da partilha dos bens e do cuidado da criação”.
A celebração da Divina Misericórdia foi instituída por São João Paulo II a 30 de abril de 2000, dia da canonização da Irmã Faustina, acontecendo no domingo a seguir á Páscoa.
O tema é central no pontificado de Francisco, que convocou entre novembro de 2015 e novembro de 2016 um Ano Santo extraordinário, o Jubileu da Misericórdia.