O Papa revelou ter escrito, em 2013, uma carta de renúncia em caso de “impedimento médico”, falando em entrevista publicada este domingo pelo jornal espanhol ABC.
“Já assinei a minha renúncia. Foi quando [o cardeal] Tarcisio Bertone era secretário de Estado. Assinei a renúncia e disse-lhe: ‘em caso de impedimento médico ou o que quer que seja, aqui está a minha renúncia’. Aí a tem’”, refere Francisco, numa passagem da conversa divulgada pelo portal de notícias ‘Vatican News’.
O Papa precisa que esta decisão foi tomada pouco após o início do seu pontificado, em março de 2013, e admite desconhecer o paradeiro da carta, dado que o atual secretário de Estado do Vaticano é o cardeal Pietro Parolin, admitindo que o cardeal Bertone a tenha entregado.
Francisco é questionado sobre o seu desejo de divulgar este facto e confirma que quer tornar pública esta carta.
“Esta é a primeira vez que digo isto”, insiste.
O portal de notícias do Vaticano precisa que São Paulo VI, Papa entre 1963 e 1978, escreveu uma carta idêntica, embora tenha permanecido no cargo até à sua morte.
Numa primeira parte da entrevista, divulgada este sábado, Francisco foi questionado sobre os seus problemas de saúde e sustentou que se governa a Igreja “com a cabeça e não com o joelho”.
Já em 2014, o Papa tinha falado da hipótese de renunciar ao pontificado se lhe faltarem as “forças”, elogiando o exemplo dado pelo Papa emérito Bento XVI.
O Código de Direito Canónico, prevê a possibilidade jurídica de renúncia por parte do Papa e esta renúncia não precisa de ser aceite por ninguém para ter validade, como indica o Cânone 332.
O que se exige é que o Papa renuncie livremente e que manifeste a sua decisão de modo claro e público.
Em 2013, a renúncia de Bento XVI ao pontificado foi apresentada pelo Vaticano como um facto “virtualmente sem precedentes” na história da Igreja Católica.
Antes do pontífice alemão, nenhum Papa tinha resignado nos últimos 600 anos, mas nos mais de 260 sucessores de São Pedro como bispo de Roma houve “pelo menos quatro” que deixaram o cargo.
As dúvidas ligam-se à falta de documentação que permita a reconstrução histórica da sucessão pontifícia, nos primeiros séculos do Cristianismo.
O Papa Francisco elogia Bento XVI, “um grande homem”, e diz que não tem intenção de reformular o estatuto jurídico da figura do Papa emérito: “Tenho a sensação de que o Espírito Santo não tem interesse em que eu me ocupe dessas coisas”.
A entrevista ao jornal ABC aborda ainda a “aterradora” guerra na Ucrânia, sem que se vislumbre “um fim a curto prazo”.
Francisco aborda ainda a situação na Venezuela e Nicarágua, justificando a ação da diplomacia da Santa Sé, a crise dos abusos sexuais e o papel das mulheres na Igreja Católica, admitindo confiar a presidência de uma leiga nalguns dicastérios da Cúria Romana.
O Papa foi questionado sobre o Motu Proprio ‘Ad Charisma tuendum’, do mês de julho, que promoveu mudanças na relação do Opus Dei com a Santa Sé.
“Sou um grande amigo do Opus Dei, amo muito o povo do Opus Dei e eles trabalham bem na Igreja. O bem que eles fazem é muito grande”, aponta.
(Com Ecclesia)