O Papa publicou hoje uma mensagem dedicada à União Europeia, apelando a uma resposta comum perante a pandemia e à preservação dos valores fundamentais do projeto comunitário.
“A pandemia é como uma encruzilhada que obriga a tomar uma opção: ou seguimos pelo caminho embocado no último decénio, que aparece animado pela tentação da autonomia, esperando-nos mal-entendidos, contraposições e conflitos cada vez maiores; ou redescobrimos o caminho da fraternidade, que sem dúvida inspirou e animou os Pais fundadores da Europa moderna, a começar precisamente por Robert Schuman”, escreve Francisco, num texto divulgado pelo Vaticano.
A mensagem assinala o 40.º aniversário da Comissão dos Episcopados da União Europeia (COMECE), o 50.º aniversário das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a União Europeia e o 50.º aniversário da presença da Santa Sé como Observador Permanente no Conselho da Europa.
O Papa destaca que a pandemia veio sublinhar que “ninguém pode sobreviver sozinho e que uma certa forma individualista de conceber a vida e a sociedade gera apenas desconforto e solidão”.
A necessidade do projeto comunitário, destaca o pontífice, tornou-se “mais relevante” no contexto da crise provocada pela Covid-19.
“Nas notícias europeias dos últimos meses, a pandemia fez sobressair tudo isto: não só a tentação de proceder sozinhos, procurando soluções unilaterais para um problema que ultrapassa as fronteiras dos Estados, mas também, graças ao grande espírito de mediação que carateriza as instituições europeias, o desejo convicto de percorrer o caminho da fraternidade, que é também caminho da solidariedade, pondo em ação criatividade e novas iniciativas”, afirma.
A mensagem apresenta um conjunto de “sonhos” do Papa para a Europa, que parte da tradição judaico-cristã que se “espelha no património de fé, arte e cultura” do continente.
Evocando uma intervenção de São João Paulo II, em 1982, Francisco lança um convite: “Europa, volta a encontrar-te! Volta a encontrar os teus ideais, que têm raízes profundas. Sê tu mesma! Não tenhas medo da tua história milenar, que é uma janela para o futuro mais do que para o passado”.
O texto questiona todos sobre a Europa que sonham para o futuro e a importância de conservar a sua “conceção do homem e da realidade”.
“Sonho uma Europa amiga da pessoa e das pessoas”, escreve Francisco, que deseja ainda “uma Europa que seja uma família e uma comunidade”, apelando à defesa da vida “em todos os seus momentos, desde o instante em que surge invisível no ventre materno até ao seu fim natural”, numa referência às legislações que abriram portas à prática do aborto e da eutanásia.
“Nenhum ser humano é dono da sua própria vida ou da dos outros”, acrescenta.
O Papa defende o trabalho como “meio privilegiado para o crescimento pessoal e a edificação do bem comum”, pedindo oportunidades de emprego, especialmente para os mais jovens.
A mensagem aborda o desafio ecológico e pede uma Europa “solidária e generosa”, em particular no campo da cooperação internacional e das migrações.
“Sonho uma Europa saudavelmente laica, onde Deus e César apareçam distintos, mas não contrapostos. Uma terra aberta à transcendência, onde a pessoa crente se sinta livre para professar publicamente a fé e propor o seu ponto de vista à sociedade”, refere Francisco.
O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, a quem é endereçada a mensagem, tinha programada, nos dias 28-30 de outubro, uma visita a Bruxelas, que foi anulada devido ao agravamento da situação sanitária; prevê-se que os encontros com as autoridades da União Europeia e com os membros da COMECE se possam realizar por videoconferência.
(Com Ecclesia)