“Ele [Jesus] olha sempre para cada um com misericórdia e mesmo com predileção. Os cristãos são chamados a fazer como Cristo, olhando como Ele, especialmente para os chamados distantes”, indicou, na audiência pública que decorreu no Auditório Paulo VI, esta manhã, dando início a um novo ciclo de catequeses, sobre a evangelização.
Francisco distinguiu o “ser missionário” do “proselitismo”, convidando os católicos a “testemunhar todos os dias a beleza do amor”, antes de referir que a “Igreja cresce por atração”.
“Nós, discípulos de Jesus, nós, Igreja, permanecemos sentados à espera de que as pessoas venham, ou sabemos levantar-nos, pôr-nos a caminho com os outros, procurar os outros?”, questionou.
O Papa alertou para a existência de “cristãos fechados, que não pensam nos outros” e de comunidades que perderam de vista o “horizonte do anúncio”.
“Trata-se de uma dimensão vital para a Igreja: com efeito, a comunidade dos discípulos de Jesus nasce apostólica, missionária. O Espírito Santo plasma-a em saída, a fim de que não permaneça fechada em si mesma, mas seja extrovertida, testemunha contagiosa de Jesus – a fé contagia-se – destinada a irradiar a sua luz até aos extremos confins da terra”, precisou.
A reflexão partiu de um episódio do Evangelho, o chamamento do apóstolo Mateus, que o próprio narra no seu Evangelho (9, 9-13) – que inspira o lema episcopal do Papa, ‘Miserando atque eligendo’: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.
Mateus, recordou Francisco, era um “colaboracionista”, por cobrar impostos para os romanos, e visto pelo povo de Israel como um “traidor”, mas Jesus viu-o de outra forma, por não se fixar nos “adjetivos”, mas na “substância” de cada pessoa.
“Este olhar, que vê o outro, quem quer que seja, como destinatário de amor, é o início da paixão evangelizadora. Tudo começa a partir deste olhar, que aprendemos com Jesus”, apontou.
“Podemos perguntar-nos: como vemos os outros? Quantas vezes vemos os seus defeitos e não as suas necessidades; quantas vezes etiquetamos as pessoas pelo que fazem ou pensam! Até como cristãos, dizemos: é ou não é dos nossos?”.
Após a catequese, Francisco saudou os vários grupos presentes na audiência geral, incluindo os de língua portuguesa.
“Gostava de vos lembrar que, para dar testemunho de Jesus, não precisamos de esperar até sermos perfeitos e termos percorrido um longo caminho atrás dele. O nosso anúncio começa hoje, lá onde vivemos”, disse.
Na saudação aos peregrinos polacos, o Papa recordou a figura de Bento XVI, falecido a 31 de dezembro do último ano.
“Nos últimos dias demos graças a Deus pela pessoa, o ensinamento e o exemplo do Papa Emérito Bento XVI. Que a sua fé vos estimule no crescimento espiritual, baseado na verdade do Evangelho e no amor fraterno, testemunhado na família, no ambiente de trabalho e na vida social”, referiu.
A audiência concluiu-se com um novo apelo à oração pela paz na Ucrânia, em guerra desde 24 de fevereiro de 2022, após a invasão russa.
“Não vamos esquecer a martirizada Ucrânia, sempre nos nossos corações; a este povo, que vive sofrimentos cruéis, expressamos o nosso afeto, a nossa proximidade e a nossa oração”, apelou.
Francisco esteve em silêncio, perante o ícone de “Nossa Senhora do Povo”, venerado na Bielorrúsia, rezando pela paz.
“Convido-os a unirem-se espiritualmente a esta minha oração”, afirmou.
(Com Ecclesia)