Francisco aborda fundamentalismo, diálogo inter-religioso e situação dos cristãos no Médio Oriente
O Papa Francisco reforça a sua condenação da guerra “em nome da religião”, numa nova entrevista, divulgada hoje por duas revistas ligadas aos Jesuítas, ‘La Civiltà Cattolica’ (Itália) e ‘Singum’ (Suécia).
“Não se pode fazer a guerra em nome da religião, de Deus: é uma blasfémia, é satânico”, declara, evocando o recente encontro pela paz que promoveu em Assis, a 20 de setembro, com responsáveis de várias Igrejas e comunidades religiosas.
Francisco sustenta que são as “idolatrias” e não as religiões que provocam as guerras, apontando o dedo à “idolatria do dinheiro, das inimizades”.
“Há uma idolatria da conquista do espaço, do domínio, que ataca as religiões como um vírus maligno. E a idolatria é uma falsa religião, é uma religião errada”, precisa.
O Papa afirma que as religiões têm a capacidade de levar o ser humano a transcender-se para “o absoluto”.
“O fenómeno religioso é transcendente e tem a ver com a verdade, a beleza, a bondade e a unidade. Sem esta abertura, se não há transcendência, não há verdadeira religião”, prossegue.
Para o pontífice argentino, a abertura à transcendência não pode “de forma alguma” ser causa do terrorismo.
A entrevista aborda depois a situação dos cristãos no Médio Oriente, que o Papa apresenta como “terra de mártires”.
“Podemos, sem dúvida, falar de uma Síria mártir e martirizada”, exemplifica.
Francisco recordou, neste contexto, do que aconteceu na ilha de Lesbos, quando se encontrou com um muçulmano e suas duas filhas, cuja mulher, cristã, tinha sido assassinada por terroristas diante da família, por não tirar uma cruz.
“Sim, ela é uma mártir. O cristão sabe que há esperança, o sangue dos mártires é semente de cristãos, sabemo-lo desde sempre”, referiu.
O Papa lamenta a “falta de frescura” nalgumas comunidades católicas, que leva a um “envelhecimento” da Igreja, lançando o desafio de “sonhar” e “profetizar”.
A entrevista foi concedida no contexto da viagem que Francisco vai realizar à Suécia, entre 31 de outubro e 1 de novembro, para encontrar-se com as comunidades luterana e católica.
(Com Ecclesia)