O Papa questiona, numa entrevista divulgada hoje na Itália, as pessoas que têm uma fé sem “dúvidas”, sublinhando que as crises interiores levam a perceber melhor o “mistério de Deus”.
“O diabo coloca dúvidas, depois a vida, as tragédias: por que é que Deus permite isso? Mas uma fé sem dúvidas não funciona”, refere, no novo livro-entrevista do padre Marco Pozza a Francisco, dedicado aos vícios e às virtudes.
O ‘Corriere della Sera’ antecipa algumas passagens da entrevista, em que o Papa evoca figuras como Santa Teresinha do Menino Jesus, que também viveram momentos de dúvida na sua fé.
“Pensar em ser abandonado por Deus é uma experiência de fé que muitos santos tiveram e também muitas pessoas hoje, que se sentem abandonadas por Deus, mas não perdem a fé. Eles guardam o dom: neste momento não sinto nada, mas guardo o dom da fé”, precisou.
Francisco considerou mesmo que um cristão que nunca passou por esses estados de espírito perde alguma coisa.
“As crises de fé não são faltas contra a fé. Pelo contrário, revelam a necessidade e o desejo de entrar cada vez mais profundamente no mistério de Deus. Uma fé sem essas provações faz-me duvidar de que seja uma fé verdadeira”, sublinhou.
“Vícios e virtudes” (Editora Rizzoli) vai ser lançado a 2 de março.
A obra resulta de uma conversa entre o Papa e o padre Marco Pozza, capelão da prisão de Pádua, para um programa de televisão que vai ser emitido em sete episódios, na Itália.
A reflexão segue a representação das sete virtudes e vícios opostos que Giotto pintou na Capela Scrovegni: justiça/injustiça, fortaleza/inconstância, temperança/ira, prudência/insensatez, fé/infidelidade, esperança/desespero, caridade/ciúme.
“Existem pessoas virtuosas, existem pessoas viciosas, mas a maioria é uma mistura de virtudes e vícios. Alguns são bons numa virtude, mas têm algumas fraquezas. Porque somos todos vulneráveis. E essa vulnerabilidade existencial devemos levar a sério. É importante saber disso, como guia do nosso caminho, da nossa vida”, assinala Francisco, citado pelo portal de notícias do Vaticano.
O Papa alerta, em particular, para o bullying entre os jovens.
“Quando ocorrem episódios de agressão e bullying nos grupos de jovens, na escola, nos bairros, vemos a pobreza de identidade de quem agride”, lamenta.
A conversa alerta para a possibilidade de um novo “dilúvio”, devido às alterações climática, e sublinha que, do ponto de vista teológico, “a história de Noé mostra que a ira de Deus também é salvadora”.
(Com Ecclesia)