Vaticano publica novas orientações, com proposta de itinerário em três grandes fases, desde a juventude aos primeiros anos de casamento
O Vaticano publicou hoje um documento com novas orientações para o Matrimónio, com prefácio do Papa Francisco, para quem é necessário evitar a celebração de uniões “nulas ou inconsistentes”.
“A preparação para o Matrimónio deve tornar-se parte integral de todo o procedimento do Matrimónio sacramental, como um antídoto para evitar a proliferação de celebrações matrimoniais nulas ou inconsistentes”, escreve, ao introduzir os “Itinerários catecumenais para a vida matrimonial”.
O documento, da responsabilidade do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, surge uma semana antes do início do 10.º Encontro Mundial das Famílias (22-26 de junho), que vai ligar Roma às dioceses católicas dos cinco continentes, por via digital, sob a presidência do Papa.
Francisco fala das novas propostas como um fruto do ano especial ‘Amoris Laetitia’, dedicado à família e convocado nos cinco anos da publicação da exortação apostólica que recolheu as conclusões de duas assembleias sinodais (2014 e 2015) dedicadas a este tema.
O Papa realça que, durante estes encontros, foi sublinhada a “grave preocupação” dos responsáveis eclesiais com uma “preparação demasiado superficial” para o Matrimónio, com o risco de que esta celebração seja nula ou que se “desmorone” em pouco tempo.
“A Igreja dedica muito tempo, vários anos, à preparação dos candidatos ao sacerdócio ou à vida religiosa, mas dedica pouco tempo, apenas umas semanas, a quem se prepara para o Matrimónio”, adverte.
A mudança proposta no novo documento é estruturada em três etapas: a preparação para o Matrimónio (remota, próxima e imediata); a celebração do casamento; o acompanhamento dos primeiros anos de vida conjugal.
Francisco pede que este seja o início de uma “renovação pastoral”, neste campo, apontando à publicação, “quanto antes”, de outro documento, sobre “possíveis itinerários de acompanhamento” para casais em nova união.
O objetivo, precisa, é que estas pessoas “não se sintam abandonados e possam encontrar, nas comunidades, lugares acessíveis e fraternos de acolhimento, de ajuda ao discernimento e de participação”.
Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida sublinha, nos “itinerários catecumenais” – expressão que remete para a preparação do Batismo -, que o Matrimónio exige “um sério discernimento pessoal e de casal”, para que a celebração do sacramento seja uma “decisão livre” e não uma “submissão passiva a uma tradição cultural ou uma formalidade social”.
A chamada “fase catecumenal” de preparação tem três etapas: uma maior, de duração variável, mas que, em linhas gerais, deve ser de aproximadamente um ano; a segunda fase, imediatamente antes do casamento, mais curta; e uma terceira, de acompanhamento dos casais nos primeiros anos de vida matrimonial.
O Vaticano sugere que a decisão de celebrar o Matrimónio seja selada com o “rito do compromisso”, que daria início à fase de preparação imediata para o sacramento.
O itinerário não se limita à comunicação de conteúdos doutrinais e pretende ir além da tipologia clássica dos ‘cursos matrimoniais’, motivo pelo qual utiliza não só o método da catequese, mas também o diálogo com os casais, os encontros individuais, os momentos litúrgicos de oração e celebração dos sacramentos, os ritos, o diálogo entre os próprios casais que participam no itinerário, a intervenção de especialistas externos, os retiros e a interação com toda a comunidade eclesial, que apoia e participa no longo processo de preparação dos casais”.
O Vaticano assume a necessidade de abordar “temas e questões que representam desafios sociais e culturais”, como a educação sexual e afetiva, a complementaridade do masculino e do feminino, o valor das escolhas definitivas ou as questões bioéticas.
O documento, com 94 pontos, quer “transmitir aos bispos, agentes da pastoral familiar e formadores o convite do Santo Padre a repensar seriamente a preparação para o Matrimónio como um contínuo acompanhamento, antes e depois do rito sacramental”, indica o prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.
Em nota enviada à Agência ECCLESIA, o cardeal Kevin Farrell destaca que este é um trabalho de “proximidade competente e concreta, feita de laços entre famílias que se apoiam mutuamente”.
(Com Ecclesia)