Nova equipa quer ser uma referência na gestão financeira.
A Santa Sé apresentou esta quarta feira a nova configuração do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o ‘Banco do Vaticano’, presidido a partir de agora pelo francês Jean-Baptiste de Franssu, que assumiu a obrigação de “transparência”.
O responsável disse em conferência de imprensa que assume o cargo como uma “missão” ao serviço da Igreja Católica, procurando ajudar o Papa a “aumentar o seu trabalho em favor dos pobres e da propagação da fé”.
No prazo de três anos, o IOR deverá desfazer-se da área de investimentos e passar a concentrar-se naquela que era a sua missão original, gerindo as contas de instituições religiosas e enviando dinheiro da Santa Sé para as missões e dioceses em todo o mundo.
“O nosso objectivo é que ele se torne um modelo de gestão financeira e não uma razão para escândalos ocasionais”, afirmou o cardeal George Pell, o australiano que o Papa Francisco nomeou em Fevereiro para liderar a Secretaria da Economia, o “super-ministério” criado para gerir as finanças e a administração do Vaticano.
Foi o primeiro ato de uma reforma destinada a varrer as suspeitas que se acumularam durante décadas e cuja divulgação manchou, a par dos escândalos de pedofilia, os últimos anos do pontificado de Bento XVI.
Jean-Baptiste de Franssu sucede ao alemão Ernst von Freyberg, nomeado por Bento XVI depois da sua renúncia ao pontificado, em fevereiro de 2013, numa mudança que se estende a todos o quadro executivo que geria a instituição desde setembro de 2009.
O francês integra o novo Conselho para a Economia, criado pelo Papa Francisco, e é visto no Vaticano como um homem da casa.
A mudança inclui, até 2017, a criação de uma estrutura independente para a gestão de ativos do Vaticano e a promoção de “investimentos católicos éticos” ao serviço da Santa Sé e dos clientes do Instituto para as Obras de Religião.
“Não podemos permitir-nos mais nenhum escândalo”, confidenciou ao Financial Times uma pessoa que o jornal identifica como sendo próxima do Papa.
Mas a agenda de transparência não está isenta de custos. O IOR revelou que, desde Maio, congelou duas mil contas e excluiu três mil pessoas da sua lista de clientes. E o relatório de contas agora divulgado revela que, em 2013, os lucros da instituição baixaram 97% face ao ano anterior (de 86,6 milhões de euros para 2,9 milhões), uma quebra justificada pelas despesas com a contratação de auditores externos e denúncia de contratos de investimento subscritos pela anterior gestão.
A imprensa italiana fala ainda de 15 milhões resultantes de um empréstimo autorizado pelo antigo secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, a uma produtora audiovisual de um seu conhecido.
A reforma promovido pelo Papa prevê ainda a criação do cargo de auditor-geral nesta instituição, para reforçar a transparência das operações financeiras.
Os estatutos do IOR vão ser revistos nos próximos três anos e as suas operações serão redesenhadas, seguindo “três prioridades estratégicas”: reforçar a base de negócio da instituição, mudar a gestão de ativos para o recém-criado VAM e centrar o IOR na consultoria financeira e serviços de pagamento ao clero, congregações religiosas, dioceses e leigos que são funcionários do Vaticano.
Ernst von Freyberg disse deixar uma instituição “completamente transparente” que conhece, neste momento, os seus clientes com “toda a certeza”.
A Comissão Cardinalícia de Vigilância do IOR vai passar a contar com D. Josip Bozanic, arcebispo de Zagreb (Croácia), que se junta aos cardeais Santos Abril y Castello (arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior), Thomas Christopher Collins (arcebispo de Toronto), Pietro Parolin (secretário de Estado do Vaticano), Christoph Schönborn (arcebispo de Viena) e Jean-Louis Tauran (prefeito do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso).
Seis novos membros leigos vão ser designados para o Conselho de Administração do IOR.