Francisco agradece colaboração das pessoas honestas e lamenta «tentações» e «doenças» que causam sofrimento
O Papa afirmou hoje no Vaticano perante os seus mais diretos colaboradores que a reforma da Cúria Romana vai avançar com “determinação”, apesar dos percalços que possam aparecer.
“A reforma prosseguirá com determinação, lucidez e ardor, porque a Igreja tem sempre de reformar-se [Ecclesia semper reformanda, em latim, no original]”, disse, no tradicional encontro de Natal.
Francisco começou por recordar que em 2014 tinha apresentado o «catálogo das doenças curiais», um conjunto de 15 tentações e «doenças» que “poderiam afetar cada cristão, cúria, comunidade, congregação, paróquia e movimento eclesial”.
“Doenças, que requerem prevenção, vigilância, cuidado e, nalguns casos infelizmente, intervenções dolorosas e prolongadas”, observou.
O Papa assumiu que algumas dessas doenças se manifestaram no decurso deste ano, “causando não pouco sofrimento a todo o corpo e ferindo muitas almas”.
A 14 de outubro, Francisco tinha pedido “perdão” pelos escândalos da Igreja, em particular os que aconteceram no Vaticano, sem se referir diretamente a casos específicos.
A 28 de agosto, o Vaticano anunciou a morte do antigo núncio na República Dominicana, Józef Wesolowski, de 67 anos, que ia ser julgado por abuso sexual de menores e posse de pornografia infantil.
Já a 3 de outubro, um dia antes do início do Sínodo da Família, o polaco Krzysztof Charamsa, sacerdote que estava ao serviço da Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé), assumiu a sua homossexualidade perante a imprensa, num ato desde logo condenado pelo Vaticano.
Em novembro viria a rebentar um novo caso ‘vatileaks’, com furto e publicação de documentos confidenciais da Santa Sé, relacionados em particular com a gestão patrimonial e atividade financeira no Vaticano.
O Papa afirmou esta manhã que todos os problemas que surgem no governo da Igreja têm de ser “objeto de sincera reflexão e de medidas decididas”.
“Entretanto nem as doenças nem mesmo os escândalos poderão esconder a eficiência dos serviços que a Cúria Romana presta ao Papa e à Igreja inteira, com desvelo, responsabilidade, empenho e dedicação, sendo isso motivo de verdadeira consolação”, assinalou depois.
Francisco considera que seria uma “grande injustiça” deixar de manifestar “gratidão e o devido encorajamento” a todas as pessoas “sãs e honestas” que trabalham na Cúria Romana “com dedicação, lealdade, fidelidade e profissionalismo”.
O discurso centrou-se na necessidade de “voltar ao essencial”, neste início do Ano Santo extraordinário da Misericórdia (dezembro2015-novembro2016), que constitui “um forte apelo à gratidão, à conversão, à renovação, à penitência e à reconciliação”.
CR/Ecclesia