Francisco espera criação de mecanismos de «vigilância» que evitem repetição dos problemas noutros países
O Papa disse hoje que a Europa tem de encontrar “um caminho” para resolver o problema da Grécia e criar mecanismos de “vigilância” para que o mesmo não se repita noutros países.
Francisco falava no voo de regresso a Roma, desde o Paraguai, após encerrar uma viagem de oito dias à América Latina, com passagens pelo Equador e Bolívia.
“Os governantes gregos que criaram esta situação de dívida internacional têm uma responsabilidade, com o novo Governo grego começou uma revisão algo justa. Eu desejo que encontrem um caminho para resolver o problema”, declarou, numa conferência de imprensa com mais de uma hora.
O Papa espera que se evite que “outros países caiam no mesmo problema” e que isto ajude a “seguir em frente, porque o caminho dos empréstimos e das dívidas, no fim de contas, nunca acaba”.
No discurso que proferiu ao encerrar o II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, o Papa condenou a imposição de medidas de austeridade que “apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres”.
Francisco disse aos jornalistas que tem “alergia à economia”, porque o seu pai, contabilista, muitas vezes tinha de trabalhar em casa ao sábado e ao domingo.
“Não percebo bem como é que a coisa funciona, mas seria muito fácil dizer: a culpa é só desta parte”, prosseguiu, a respeito das atuais negociações da zona euro sobre a Grécia.
O Governo grego liderado por Alexis Tsipras terá acabado por concordar com a maioria das medidas reclamadas pelos credores, as quais devem ser aprovadas a nível legislativo até quarta-feira.
O Papa disse ter ouvido falar de um projeto da ONU que permitiria a um país declarar a “bancarrota”, de forma diferente ao “default”.
“Se uma empresa pode declarar a bancarrota, porque é que um país não o pode fazer e ir em ajuda dos outros?”, questionou.
Segundo o pontífice argentino, o problema da dívida é “terrível”.
Entretanto, já hoje a Plataforma Social Europeia, que integra entre outras organizações a Cáritas Portuguesa, espera que as negociações que decorrem entre a Grécia e a União Europeia coloquem no centro “o bem-estar das pessoas”.
Numa carta publicada no site da Cáritas nacional, os responsáveis por aquele organismo mostram-se convictos de que “com as escolhas certas” será possível “tirar a Grécia do colapso económico e social”.
Ao mesmo tempo, acreditam ser viável o retorno a um “crescimento” económico e social “dentro da zona euro”, através de “reformas socialmente justas”.
Para a Plataforma Social Europeia, “a situação na Grécia resultou do fracasso em colocar os direitos e o bem-estar de todas as pessoas, no centro das políticas europeias”.
Algo que abriu espaço a “programas” de austeridade que levaram “a situação social e dos direitos humanos” daquele país “a deteriorar-se drasticamente”.
O organismo pede uma decisão que tenha em conta “os valores comuns da União Europeia e dos direitos humanos e solidariedade”.
Defende ainda que a busca de soluções não cabe apenas aos “departamentos de finanças” mas também a setores como o “emprego, assuntos sociais e saúde”.
Cabe depois à sociedade civil “garantir” que as “reformas” avancem e que respondam “às necessidades imediatas das pessoas mais vulneráveis”, concluem os responsáveis da Plataforma Social Europeia.
Para esta segunda-feira à tarde está prevista em Bruxelas uma nova ronda negocial à volta da situação grega, isto depois de nos últimos dias ter sido afastado o espetro da saída helénia da zona euro.
Por agora, está aberta a possibilidade para o Governo grego negociar um terceiro resgate financeiro para o país, na ordem dos 86 mil milhões de euros.
No entanto, o Parlamento da Grécia tem primeiro que ratificar as condições impostas pelos credores internacionais, que envolvem entre outras medidas, mexidas ao nível dos impostos e das pensões.
CR/Ecclesia