O Papa apelou hoje aos responsáveis religiosos presentes no Dubai, para a 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que trabalhem juntos pela paz e pelo ambiente.
“Urge que as religiões, sem cair na armadilha do sincretismo, deem o bom exemplo de trabalharem juntas, não para os próprios interesses nem para os interesses duma parte, mas para os interesses do mundo. Entre estes, os mais importantes são a paz e o clima”, refere, numa mensagem vídeo divulgada pelo Vaticano.
Francisco mostra a sua tristeza por ter sido obrigado a cancelar a sua viagem aos Emirados Árabes Unidos, que iria decorrer de 1 a 3 de dezembro, por indicação dos médicos que o aconselham, devido aos problemas de saúde que o afetam desde a última semana.
Assinalando a inauguração do Pavilhão da Fé, o Papa fala num “testemunho” do desejo de trabalhar em conjunto.
“Quero dizer-vos obrigado. Obrigado porque realizastes, pela primeira vez, um pavilhão religioso no âmbito duma COP”, indica.
Francisco defende a criação de alianças “a favor de todos”, sem excluir ninguém, apelando ao exemplo dos representantes religiosos, para “manifestar que é possível uma mudança, para testemunhar estilos de vida respeitosos e sustentáveis”.
“Peçamos encarecidamente aos responsáveis das nações que seja preservada a casa comum”, prossegue.
A mensagem evoca, em particular, “os pequenos e os pobres, cujas orações chegam ao trono do Altíssimo”.
“Pelo futuro, deles e de todos, salvaguardemos a criação e protejamos a casa comum, vivamos em paz e promovamos a paz”, concluiu.
A sessão de inauguração do Pavilhão da Fé, na Expo City do Dubai, contou com a presença do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, que leu o discurso previamente preparado para o Papa, que assinou a declaração conjunta desta iniciativa.
Representantes de diferentes fés e tradições indígenas, através do diálogo com cientistas, estudiosos religiosos, académicos, organizações de mulheres, jovens, sociedade civil, líderes empresariais e decisores políticos, manifestam preocupação perante a crise do clima, reconhecendo também “as ligações entre as alterações climáticas, a migração e os conflitos, mas também o potencial papel das pessoas de fé como pacificadores ambientais”.
“As necessidades de todas as pessoas, especialmente as crianças, as comunidades vulneráveis que enfrentam catástrofes e conflitos, os jovens, as mulheres e os povos indígenas, bem como os animais e a natureza, devem estar no centro dos nossos esforços”, apontam os subscritores da declaração.
No seu discurso, Francisco refere-se às religiões como “consciência da humanidade”.
“É importante encontrarmo-nos, mais além das nossas diferenças, como irmãos e irmãs em humanidade e sobretudo como crentes, para nos recordarmos a nós e ao mundo que, como peregrinos com a própria tenda nesta terra, somos obrigados a salvaguardar a nossa Casa Comum”, escreve.
O Papa questiona respostas à crise climática que repetem os mesmos modelos económicos e tecnológicos que a provocaram.
“É urgente agir em prol do ambiente, mas utilizar mais recursos económicos não basta: torna-se necessário mudar o modo de viver e, por conseguinte, educar para estilos de vida sóbrios e fraternos”, sustenta.
Como aconteceu na sua mensagem em vídeo, o discurso liga à defesa do ambiente à defesa da paz, como única forma de preservar a “casa comum” da humanidade.
“Salvaguardar a paz é tarefa também das religiões. Nisto, por favor, não haja incoerências. Não se negue com os factos aquilo que se diz com os lábios: não se limite a falar de paz, mas tome-se claramente posição contra quem, declarando-se crente, alimenta o ódio e não se opõe à violência”, conclui.
A COP28 decorre de 30 de novembro a 12 de dezembro.
O Papa voltaria ao tema durante a recitação do ângelus, desde o Vaticano, ao meio-dia de Roma.
“Sigo com grande atenção, mesmo à distância, os trabalhos da COP 28 noDubai. Estou próximo e renovo o meu apelo para que se responda às mudanças climáticas com mudanças políticas concretas”, assinalou.
Francisco convidou os participantes na CP28 a abraçar uma “visão comum”, para superar nacionalismos e modelos do passado, apontando a uma “conversão ecológica global”.
(Com Ecclesia)