O Papa participou hoje num encontro ecuménico pela paz, promovido pela comunidade católica de Santo Egídio, pedindo que os cristãos sejam “unidos, mais fraternos”, rejeitando a indiferença perante quem sofre.
“Quanto mais estivermos agarrados ao Senhor Jesus, tanto mais seremos abertos e ‘universais’, porque nos sentiremos responsáveis pelos outros. E o outro será o caminho para nos salvarmos a nós mesmos: cada um dos outros, cada ser humano, seja qual for a sua história e o seu credo, a começar pelos pobres, os mais parecidos com Jesus”, disse, na Basílica de Santa Maria em Aracoeli, Roma.
Francisco considerou que “rezar juntos é uma dádiva”, agradecendo aos vários responsáveis cristãos presentes, entre eles Bartolomeu, patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), e o bispo Heinrich Bedford-Strohm, presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha.
Depois de, a 3 de outubro, ter visitado Assis para a assinatura da sua nova encíclica, ‘Fratelli Tutti’, o Papa voltou a sair do Vaticano esta tarde para marcar presença num encontro de oração pela paz intitulado ‘Ninguém se salva sozinho – Paz e Fraternidade’.
O Papa alertou para a “a tentação de pensar só em defender-se a si mesmo ou ao próprio grupo, ter em mente apenas os próprios problemas e interesses”.
A intervenção partiu do grito de escárnio “salva-te a Ti mesmo”, que os transeuntes e chefes religiosos dirigiam a Jesus Cristo, no momento da sua crucifixão.
“Todos somos peritos em colocar os outros na cruz, contanto que nos salvemos a nós mesmos”, lamentou Francisco.
“Talvez nós também preferíssemos às vezes um deus espetacular em vez de compassivo, um deus poderoso aos olhos do mundo, que se impõe pela força e desbarata quantos nos querem mal. Mas este não é Deus; é o nosso eu”.
O Papa questionou o culto do próprio “eu”, que “cresce e se alimenta mediante a indiferença para com o outro”.
“O ‘evangelho’ do salva-te a ti mesmo não é o Evangelho da salvação. Antes, é o evangelho apócrifo mais falso, que coloca as cruzes aos ombros dos outros. Ao contrário, o Evangelho verdadeiro assume as cruzes dos outros”, alertou.
Francisco sustentou que é a “falta de amor” a causa mais “profunda” dos males “pessoais, sociais, internacionais, ambientais” da atualidade.
“Os braços de Jesus, abertos na cruz, assinalam uma mudança radical, porque Deus não aponta o dedo contra ninguém, mas abraça cada um. Pois só o amor apaga o ódio, só o amor vence completamente a injustiça. Só o amor dá espaço ao outro. Só o amor é o caminho para a plena comunhão entre nós”, acrescentou.
A intervenção concluiu-se com um caminho para que as Igrejas e comunidades cristãs sigam “senda da fraternidade”, para serem “testemunhas credíveis do Deus verdadeiro”.
O bispo Heinrich Bedford-Strohm questionou os presentes sobre a necessidade de identificar Jesus Cristo nas pessoas que mais sofrem: “E se realmente fosse Cristo que corre o risco de afogar-se no mar Mediterrâneo, por que a Europa não salva e até impede que os barcos civis ajudem? E se realmente fosse Cristo que encontramos na criança em Moçambique que não tem comida suficiente para viver?”.
A celebração evocou as vítimas das guerras, do terrorismo e da atual pandemia, rezando pela paz no mundo e pelos cristãos perseguidos, citando a situação do Burquina-Faso.
Os participantes evocaram, em particular, os conflitos no Afeganistão, América Central, Bielorrússia, Burundi, Colômbia, R. D. Congo, a Península Coreana, Iraque, Índia e Paquistão, Líbano, Líbia, Mali, México, o norte de Moçambique, Nigéria, República Centro-Africana, Síria, o Cáucaso, a Somália, Sudão do Sul, Ucrânia, Venezuela, Iémen e na Terra Santa.
Após esta oração, os representantes cristãos unem-se a outros líderes religiosos e políticos, na Praça do Município de Roma, Campidoglio, para uma cerimónia pelas vítimas da Covid-19.
(Com Ecclesia)