Francisco fala nos perigos provocados pela «exploração» de recursos e de pessoas
O Papa manifestou hoje no Vaticano a sua preocupação com as consequências da “exploração” da natureza e das pessoas, apelando a uma mudança no modelo económico, para o tornar mais “sustentável”.
Na audiência pública semanal, Francisco pediu “novos hábitos de produção e consumo, que contribuam para um novo modelo de crescimento económico, que garanta o respeito pela casa comum, o respeito pelas pessoas”.
“Abusar da natureza é um pecado grave, que nos faz mal e nos faz adoecer”, acrescentou.
A intervenção denunciou os “abusos” contra a natureza e convidou os cristãos a uma atitude de “contemplação”, assumindo a missão de ser “guardião do meio ambiente”.
“Ser contemplativos leva-nos a ser responsáveis, com estilos de vida sustentáveis, que respeitem e protejam a natureza, da qual também fazemos parte”, indicou.
O Papa destacou a importância de “aliar conhecimentos ancestrais” com novos conhecimentos técnicos, para promover a sustentabilidade.
“Penso de forma especial nos povos indígenas, com quem todos temos uma dívida de gratidão, também de penitência, para reparar o mal que lhes fizemos”, declarou.
Francisco falou numa “revolução pacífica” promovida por movimentos, associações e grupos populares que se comprometem a proteger o seu território, “com os seus valores naturais e culturais”.
A reflexão do Papa criticou uma “interpretação distorcida dos textos bíblicos”, que leva a fazer dos seres humanos “governantes absolutos de todas as outras criaturas” e promove a “exploração da terra, ao ponto de sufocá-la”.
“Explorar a criação, isto é pecado”, insistiu.
Francisco convidou a humanidade a recuperar a dimensão de “cuidado”, pela vida de todos, em particular dos mais frágeis.
“Os nossos irmãos mais pobres e a nossa mãe terra gemem por causa dos danos e injustiças que causamos e exigem outro caminho. Reclamam de nós uma conversão”, observou.
Quando não se aprende a parar para admirar e apreciar a beleza, não é estranho que tudo se transforme em objeto de uso e abuso sem escrúpulos. Também em objeto que se usa e deita fora”.
O Papa mostrou-se impressionado com as notícias que dão conta de que as plataformas de gelo que sustentam os dois principais glaciares da Antártida estão a sofrer rápidas transformações e o risco de colapso é cada vez maior.
“Será terrível”, alertou.
O Pine Island e o Thwaites, no Mar de Amundsen, são os glaciares que mais transformações têm sofrido num curto espaço de tempo.
“Não nos esqueçamos de que isto se paga caro”, porque a natureza “nunca perdoa”, sublinhou o pontífice.
Francisco defendeu uma visão que vá para lá da “utilidade” dos recursos naturais e das pessoas, centrada em duas palavras, “contemplar e cuidar”.
“Aqui estão duas atitudes que mostram o caminho para corrigir e reequilibrar a nossa relação de ser humano com a criação”, acrescentou, apelando à preocupação com as “gerações futuras”.
No final da audiência, o Papa deixou uma saudação aos peregrinos de língua portuguesa: “Convido a cada um a descobrir a presença de Deus nas suas criaturas, aprendendo cada vez mais a amá-las, cuidar delas e protegê-las. Que Deus vos abençoe, a vós e aos vossos entes queridos”.
A audiência contou com a presença do cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e do padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, que Francisco cumprimentou.
(Com Ecclesia)