O Papa apela a um jejum na utilização dos meios digitais, durante a próxima Quaresma, para valorizar os “encontros reais” e ir ao encontro de quem passa necessidade.
“A dependência dos meios de comunicação digitais empobrece as relações humanas. A Quaresma é tempo propício para contrariar estas ciladas, cultivando, pelo contrário, uma comunicação humana mais integral, feita de encontros reais, face a face”, refere Francisco, numa mensagem divulgada hoje pelo Vaticano.
O texto alude à inclinação do ser humano “para o egoísmo e todo o mal”, convidando os católicos às práticas do jejum, da partilha e oração, que tradicionalmente marcam a preparação para a Páscoa.
“Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca se cansa de perdoar”, escreve o Papa.
A mensagem tem como título uma exortação tirada da Carta de São Paulo aos Gálatas: ‘Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos’ (Gal 6, 9-10a).
“Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida”, indica Francisco.
A Quaresma é tempo propício para procurar, não evitar, quem passa necessidade; para chamar, não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, não abandonar, quem sofre a solidão”.
Francisco sublinha a importância de “praticar o bem para com todos”, reservando tempo para “os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados”.
“Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir”, observa.
O Papa reforça a ideia de que “ninguém se salva sozinho”, na qual tem insistido durante a crise provocada pela Covid-19, e acrescenta que “ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte”.
A mensagem apresenta a Quaresma como um tempo de renovação pessoal e comunitária, para superar “a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir”.
“Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus”, prossegue.
Francisco destaca a necessidade da esperança, a partir da ressurreição de Jesus, para evitar o egoísmo.
“Perante a amarga desilusão por tantos sonhos desfeitos, a inquietação com os desafios a enfrentar, o desconsolo pela pobreza de meios à disposição, a tentação é fechar-se num egoísmo individualista e, à vista dos sofrimentos alheios, refugiar-se na indiferença”, adverte.
O texto convida ainda à oração, reconhecendo a necessidade de Deus.
“A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa”, sublinha o Papa.
A Quaresma é um tempo de 40 dias que tem início com a celebração de Cinzas (2 de março, em 2022), marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.
(Com Ecclesia)