O Papa elogiou hoje a figura de Celestino V (1209-1296), que renunciou ao pontificado, apresentando-o como um exemplo de humildade para toda a Igreja.
“A força dos humildes é o Senhor, não as estratégias, os meios humanos, a lógica deste mundo. Não, o Senhor. Nesse sentido, Celestino V foi uma testemunha corajosa do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder o pôde aprisionar ou gerir”, declarou, na homilia da Missa a que presidiu na praça da Basílica de Santa Maria in Collemaggio, na cidade de Áquila, região central da Itália.
“Nele admiramos uma Igreja livre da lógica mundana e testemunha, plenamente, daquele nome de Deus que é a Misericórdia”, acrescentou, na celebração conclusiva da visita que fez este domingo, um dia depois do consistório para a criação de 20 cardeais, no Vaticano.
Francisco evocou o exemplo de Pietro Angeleri da Morrone (1209-1296), monge que fundou em Abruzzo (Monte Morrone) a Ordem dos Celestinos e passou à história por renunciar voluntariamente ao ministério como bispo de Roma, após 5 meses de pontificado, para voltar à vida eremítica.
Decidido a retomar sua vida de oração na solidão de um mosteiro, Celestino V acabaria por renunciar ao pontificado a 13 de dezembro de 1294, menos de quatro meses após a sua eleição; foi preso na torre de um castelo, por ordem do seu sucessor, Bonifácio VIII, e ali permaneceu isolado até o fim da vida, em 1296.
“O homem não é o lugar que ocupa, mas a liberdade de que é capaz e que manifesta plenamente quando ocupa o último lugar, ou quando lhe é reservado um lugar na cruz”, disse o Papa.
A homilia desafiou os participantes a assumir “a força dos humildes”.
“A humildade não consiste na desvalorização de si mesmo, mas naquele realismo saudável que nos faz reconhecer as nossas potencialidades e também as nossas misérias”, precisou Francisco.
“Recordamos erradamente a figura de Celestino V como ‘aquele que fez a grande recusa’, segundo a expressão de Dante na ‘Divina Comédia’; mas Celestino V não era o homem do ‘não’, era o homem do ‘sim’”.
Celestino V também é conhecido pela promulgação da ‘Perdonanza (Perdão)’: após a sua eleição pontifícia, a 29 de agosto de 1294, chegou montado num burro à cidade de Aquila, levado por Carlos II de Anjou, rei de Nápoles.
Celestino decidiu que todos os que visitassem a Basílica de Collemaggio, nesta cidade, entre os dias 28 e 29 de agosto, receberiam a remissão dos pecados e a absolvição da pena.
Francisco apresentou uma reflexão sobre o perdão, sublinhando a importância de reconhecer a própria “miséria” para ir ao encontro de Deus.
“O perdão é passar da morte para a vida, da experiência de angústia e culpa para a de liberdade e alegria”, indicou.
O Papa recordou todos os que sofreram por causa do sismo de 2009, após ter-se encontrado com familiares das vítimas, ao início da manhã.
“Quem sofreu deve ser capaz de valorizar o seu próprio sofrimento, deve entender que na escuridão vivida também recebeu o dom de compreender a dor dos outros”, declarou.
A intervenção apontou a um “terramoto da alma”, que coloca cada pessoa “em contacto com a sua própria fragilidade, os seus próprios limites, a sua própria miséria”.
“O cristão sabe que a sua vida não é uma carreira à maneira deste mundo, mas uma carreira à maneira de Cristo, que dirá de si mesmo que veio para servir e não para ser servido”, prosseguiu.
Enquanto não entendermos que a revolução do Evangelho está toda neste tipo de liberdade, continuaremos a testemunhar guerras, violências e injustiças, que nada mais são do que o sintoma externo de uma falta de liberdade interior. Onde não há liberdade interior, abrem caminho o egoísmo, o individualismo, o interesse, a opressão, todas estas misérias”.
A homilia concluiu-se com uma oração a Maria, venerada com o título de “Salvação do povo de Áquila”.
“Que a sua intercessão materna obtenha o perdão e a paz para o mundo inteiro, a consciência da própria miséria e a beleza da misericórdia”, pediu Francisco.
No final da celebração eucarística, o Papa recitou o ângelus, seguida do rito de abertura da Porta Santa que deu início ao 728.º Perdão Celestino, parando junto do túmulo de Celestino V.
Francisco, que se deslocou em cadeira de rodas, em vários momentos, é o primeiro Papa a abrir a Porta Santa, nesta data.
Em abril de 2009, Bento XVI parou junto desta basílica, depositando na Porta Santa o pálio – insígnia pessoal e de autoridade que lhe fora imposto no dia do início de pontificado -, sobre o relicário com os restos mortais de Celestino V.
A viagem conclui-se no Estádio Gran Sasso, com a partida do Papa para o Vaticano.
(Com Ecclesia)