As orientações pastorais do Vaticano para redescobrir a fraternidade no Dia dos Avós, a 28 de julho, foram anunciadas esta terça feira
Na mensagem que tem como tema “Na velhice, não me abandones” (Sl 71,9), o Papa citado pelo Cardeal Kevin Farrel, prefeito do Discatério para os Leigos, a família e a vida, afirma que “ devido à crise da pertença comum e ao surgimento de uma mentalidade cada vez mais individualista – a solidão dos idosos muitas vezes não é sequer percebida como um problema. Mas a Igreja é chamada a construir algo diferente, a redescobrir o sabor da fraternidade e a construir laços entre as gerações.”
Com a publicação da mensagem, o Dicastério também disponibiliza um kit pastoral que será enviado às conferências episcopais e que estará disponível no site www.laityfamilylife.va. O kit, explica Gleison De Paula Souza, secretário do Dicastério, é uma ferramenta à disposição de todas as comunidades eclesiais para ajudar a viver um Dia sem solidão.
“Como de costume, propomos celebrar uma missa com os idosos da comunidade e visitar aqueles que vivem mais sozinhos. O nosso desejo é que, a partir daí, os idosos se tornem protagonistas de forma não episódica da vida e da pastoral da Igreja, e que lhes seja dedicada atenção todos os dias do ano”, afirma o dicastério.
A mensagem do Papa começa por recordar que “Deus nunca abandona os seus filhos; nem sequer quando a idade vai avançando e as forças já declinam, quando os cabelos ficam brancos e a função social diminui, quando a vida se torna menos produtiva e corre o risco de parecer inútil. O Senhor não olha para as aparências (cf. 1 Sam 16, 7),” destaca o Papa no texto. Esse “amor fiel do Senhor”, do “modo como Deus cuida de nós”, continua ele, é revelado em toda Sagrada Escritura e, sobretudo, nos salmos: “aliás, segundo a Bíblia, é sinal de bênção poder envelhecer”.
“Muitas vezes me sucedeu, como bispo de Buenos Aires, ir visitar lares de terceira idade, dando-me conta de como raramente recebiam visitas aquelas pessoas: algumas, há muitos meses, não viam os seus familiares.”
O Papa Francisco elenca inúmeras causas dessa solidão, provenientes, por exemplo, de situações de pobreza e conflitos, migrações e hostilidades dos jovens em relação aos idosos – essa uma mentalidade que deve ser “combatida e erradicada”, escreve o Pontífice, para não alimentar “uma certa conflitualidade geracional”: “se pensarmos bem, está hoje muito presente por todo o lado esta acusação, lançada contra os velhos, de roubar o futuro aos jovens”
“O contraste entre as gerações é um equívoco, um fruto envenenado da cultura do conflito. Opor os jovens aos idosos é uma manipulação inaceitável: ‘O que está em jogo é a unidade das idades da vida‘.”
“A solidão e o descarte dos idosos não são casuais nem inevitáveis, mas fruto de opções – políticas, económicas, sociais e pessoais – que não reconhecem a dignidade infinita de cada pessoa”, continua Francisco na mensagem ao acrescentar nesse pacote triste da terceira idade, o descarte. O Papa afirma o quanto os idosos e as próprias famílias acabam vítimas da “cultura individualista” porque, quando se envelhece, as pessoas ficam sem ajuda de ninguém: “cada vez mais perdemos o gosto da fraternidade”, afirma.
“Isto acontece quando se perde vista o valor de cada pessoa, tornando-se ela apenas uma despesa que, em alguns casos, aparece demasiado elevada para pagar. O pior é que, muitas vezes, acabam dominados por esta mentalidade os próprios idosos que chegam a considerar-se como um fardo, sendo os primeiros a quererem desaparecer.”
“A solidão e o descarte tornaram-se elementos frequentes no contexto em que estamos imersos”, refere o Papa.
“Neste IV Dia Mundial a eles dedicado, não deixemos de mostrar a nossa ternura aos avós e aos idosos das nossas famílias, visitemos aqueles que estão desanimados e já não esperam que seja possível um futuro diferente. À atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer «não te abandonarei!» e de seguir um caminho diferente”, conclui o Papa.