Papa oferece mediação da Santa Sé para travar guerra, denunciando “rios de sangue e de lágrimas”

O Papa condenou hoje a guerra na Ucrânia, falando de “rios de sangue e de lágrimas”, numa intervenção em que contrariou o discurso oficial da Rússia, que fala em “operação militar especial”.

“Não se trata apenas de uma operação militar, mas de guerra, que semeia morte, destruição e miséria”, denunciou, desde a janela do apartamento pontifício, no Vaticano.

Perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, para a recitação do ângelus, Francisco afirmou que, “na Ucrânia, correm rios de sangue e de lágrimas” e, após 11 dias de invasão russa, “as vítimas são cada vez mais numerosas, bem como as pessoas em fuga, especialmente mães e crianças”.

“Sobretudo, imploro que cessem os ataques armados e prevaleça a negociação, que prevaleça o bom senso, e se volte a respeitar o direito internacional”, apelou.

O Papa anunciou que a Santa Sé está disposta a “fazer de tudo” para mediar o conflito e “colocar-se ao serviço desta paz”.

A intervenção revelou que, nos últimos dias, foram à Ucrânia dois cardeais próximos de Francisco, “para servir o povo, para ajudar”.

Os responsáveis escolhidos foram o cardeal Konrad Krajewski, esmoler pontifício, “para levar ajuda aos mais necessitados”, e o cardeal Michael Czerny, prefeito interino do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé).

“Esta presença de dois cardeais, lá, é a presença não só do Papa mas de todo o povo cristão, que se quer aproximar e dizer: a guerra é uma loucura, parai por favor! Olhai para esta crueldade”.

Francisco renovou o seu “sentido apelo” para que se “assegurem realmente corredores humanitários”.

O Papa espera que “seja garantido e facilitado o acesso das ajudas às zonas sob assédio, para oferecer socorro vital a irmãos e irmãs oprimidos pelas bombas e pelo medo”.

“Nesse país martirizado cresce dramaticamente, de hora em hora, a necessidade de assistência humanitária”, acrescentou.

Francisco agradeceu a todos os que estão a acolher os refugiados e deixou uma palavra especial aos profissionais da comunicação social que se encontram no cenário de guerra.

“Gostaria de agradecer aos jornalistas, que para garantir a informação, colocam em risco a própria vida. Obrigado, irmãos e irmãs, por este vosso serviço”, disse, numa intervenção sublinhada pela multidão com uma salva de palmas.

“Um serviço que nos permite estar próximos do drama daquelas populações e perceber a crueldade de uma guerra. Obrigado, irmãos e irmãs”, prosseguiu.

O Papa concluiu com um apelo à oração pela paz na Ucrânia, destacando a presença de várias bandeiras do país, na Praça de São Pedro.

“Rezemos juntos, como irmãos, a Nossa Senhora, Rainha da Ucrânia”, pediu.

Mais de 1,5 milhões de pessoas saíram da Ucrânia para os países vizinhos em dez dias, segundo o Alto-Comissário da ONU para os Refugiados.

“Esta é a crise de refugiados de crescimento mais rápido na Europa desde a II Guerra Mundial”, escreveu Filippo Grandi, numa publicação na rede social Twitter.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar contra a Ucrânia, que tem provocado milhares de mortes, entre militares e civis, e elevados danos materiais.

 

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