O Papa inicia hoje a sua 37ª viagem internacional, percorrendo mais de 19 mil quilómetros para uma “peregrinação penitencial” ao Canadá, como o próprio a apresentou, em busca da reconciliação com os povos indígenas.
A visita, que decorre até 30 de julho, passa pelas cidades de Edmonton, Quebeque e Iqaluit – que abriga o maior número de Inuítes.
Francisco é o segundo Papa a passar pelo Canadá, que recebeu São João Paulo II por três vezes: 1984, 1987 e 2002.
Em declarações aos jornalistas, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni destacou que a viagem visa “continuar o caminho de reconciliação empreendido nos últimos meses com os Métis, Inuítes e Primeiras Nações”, povos indígenas afetados na época colonial pelas políticas de assimilação cultural
Convidado pelas autoridades civis, indígenas e religiosas do Canadá, Francisco parte de Roma pelas 09h00 deste domingo (menos uma em Lisboa), para um voo de sete horas, chegando a Edmonton, capital da província de Alberta, pelas 11h20 (18h20 em Lisboa), antes de instalar-se no Seminário São José.
A 1 de abril, no Vaticano, o Papa pediu “perdão” pelo envolvimento dos católicos na gestão de escolas residenciais para povos indígenas do Canadá, perante representantes destas comunidades, confessando “indignação e vergonha”.
“Pela deplorável conduta de alguns católicos, peço perdão a Deus. Quero dizer-vos de todo o coração: estou muito entristecido. Uno-me aos bispos canadianos, para pedir-vos perdão”, referiu Francisco, no final de uma série de encontros com delegações das Primeiras Nações, Métis e Inuítes. O Papa falou de uma “colonização sem respeito” que provocou uma “tragédia” nas comunidades indígenas, separando famílias e desrespeitando identidades culturais ou valores espirituais. “Tudo isto é contrário ao Evangelho de Jesus”, sustentou. |
Durante a viagem, o Papa tem nove intervenções previstas – quatro discursos, quatro homilias e uma saudação a representantes de povos indígenas.
A primeira etapa da visita, em Edmonton, é totalmente dedicada às populações nativas das Primeiras Nações, Métis e Inuítes, evocando as vítimas das chamadas “escolas residenciais”, criadas pelo governo e confiadas a Igrejas cristãs, incluindo a católica.
No dia 26 de julho, celebração litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus, Francisco participa na tradicional peregrinação que acontece há séculos, no lago homónimo, a cerca de 72 quilómetros de Edmonton.
Já no Quebeque, decorrem os tradicionais encontros com as autoridades civis, com a comunidade católica e uma celebração pela reconciliação, com participação especial de comunidades indígenas, no Santuário de Santa Ana de Beaupré.
Ao mesmo tempo, um grupo de representantes indígenas vai caminhar 275 quilómetros até ao Quebeque, numa manifestação de apoio aos sobreviventes das escolas residenciais.
As “Primeiras Nações” são os povos presentes no território canadiano antes da chegada dos europeus; os “Métis” (mestiços) nasceram do encontro entre indígenas e europeus, tendo uma identidade específica, reconhecida oficialmente; os “Inuítes” são os povos das terras do norte, junto ao Ártico, conhecidos habitualmente como esquimós.
O Vaticano lembra que, no passado, a política do Canadá assumia a “inferioridade das etnias e culturas indígenas e sua inevitável extinção”, uma política de assimilação cultural que era implementada através do sistema de escolas residenciais, distribuídas por todo o país.
A Comissão da Verdade e Reconciliação, que abordou este período histórico, pedia ao Papa, em 2015, um pedido de perdão às vítimas pelo papel do Igreja Católica “no abuso espiritual, cultural, emocional, físico e sexual de crianças das Primeiras Nações, Inuítes e Métis em escolas residenciais”.
Os bispos católicos do Canadá estabeleceram uma instituição de caridade para gerir o “Fundo de Reconciliação Indígena”, destinado a compensar as vítimas, num total de 30 milhões de dólares.
Esta semana, uma autorização judicial abriu caminho à venda de imóveis em 34 paróquias da ilha de Terra Nova, na costa atlântica canadiana.
(Com Ecclesia)