Papa Francisco celebra missa para seis milhões de pessoas em Manila

Durante a homilia ataca a corrupção e pede aos católicos que sejam missionários

O papa Francisco realizou hoje a maior missa de sempre com a presença de cerca de seis milhões de católicos filipinos a quem pediu para serem missionários na Asia, onde a Igreja representa 3,2% da população.

“As Filipinas são o país líder na Ásia. É um dom de Deus, uma bênção, mas também é uma vocação. Os Filipinos são chamados a ser missionários da fé na Ásia”, afirmou na homilia realizada hoje em Manila perante milhões de pessoas que não abandonaram a celebração, apesar da chuva que atinge a capital.

Nesta celebração eucarística, que já foi considerada pela Igreja a maior de sempre em toda a história dos pontificados, Francisco criticou a corrupção, o conformismo, o desperdício, as ameaças contra o meio ambiente e “os ataques insidiosos” contra a família.

“Pelo pecado, o homem destruiu a unidade e a beleza da nossa família humana, criando estruturas sociais que perpetuam a pobreza, a ignorância e a corrupção”, denunciou Francisco, durante a maior celebração do atual pontificado, junto ao estádio ‘Quirino Grandstand’, na área do Parque Rizal.

Retomando um tema já abordado esta sexta feira, o Papa alertou para a necessidade de promover a família e a natalidade.

“Hoje, infelizmente, a família tem necessidade de ser protegida de ataques insidiosos e programas contrários a tudo o que nós consideramos de mais verdadeiro e sagrado, tudo o que há de mais nobre e belo na nossa cultura”, advertiu.

Francisco convidou a ver em cada criança “um dom que deve ser acolhido, amado e protegido”.

“Devemos cuidar dos jovens, não permitindo que lhes seja roubada a esperança e sejam condenados a viver pelas ruas”, acrescentou, aludindo a um problema particularmente sentido nas Filipinas.

O Papa encorajou os presentes a acreditar sempre, mesmo perante as dificuldades e as injustiças, e alertou para os perigos da “mentira”.

“O diabo é o pai da mentira. Muitas vezes, ele esconde as suas insídias por detrás da aparência da sofisticação, do fascínio de ser ‘moderno’, de ser ‘como todos os outros’. Distrai-nos com a miragem de prazeres efémeros e passatempos superficiais”, observou.

Nesse sentido, lamentou o investimento feito em ‘gadgets’, “em jogos de azar e na bebida”.

“Fechamo-nos em nós mesmos. Esquecemo-nos de nos centrarmos nas coisas que realmente contam”, acrescentou.

Francisco deixou ainda uma mensagem para as mulheres filipinas, criticando um modelo de sociedade machista que não dá espaço à mulher.

Francisco lamentou a “muito reduzida” presença de mulheres na cerimónia e defendeu que estas “têm muito mais a dizer na sociedade de hoje”.

“Às vezes somos demasiado machistas e não damos espaço à mulher, mas a mulher é capaz de ver as coisas com olhos diferentes dos  homens”, acrescentou.

Segundo o papa, “a mulher é capaz de fazer perguntas que os homens não conseguem entender”.

Francisco referia-se, em particular, a uma antiga menina de rua que lhe perguntou a razão por que sofrem os meninos.

“Ela hoje fez a única pergunta que não tem resposta, e não chegaram as palavras e teve de ser dita com lágrimas”, sublinhou.

Francisco disse ainda esperar que haja mais mulheres entre a multidão quando o próximo papa for às Filipinas.

A missa em Manila, capital das Filipinas, foi um dos pontos altos da visita de cinco dias ao país que tem 100 milhões de habitantes, 80% dos quais católicos.

A celebração, debaixo de chuva, contou com uma leitura lida por uma invisual, em braille, e no final da Missa o Papa enviou simbolicamente os fiéis das Filipinas em Missão, com a entrega de uma vela.

O arcebispo de Manila, cardeal Luis Antonio Tagle, despediu-se do Papa em nome da multidão de hoje e dos últimos dias: “Todos os filipinos querem ir consigo! (risos) Não tenha medo: todos os filipinos quer ir consigo, não para Roma, mas para as periferias”.

Protegido com um impermeável amarelo, o pontífice, de 87 anos, acenou e sorriu ao longo do percurso que fez no seu papamóvel até chegar à zona onde se realizou a cerimónia religiosa, no parque de Bayside.

Durante o percurso mandou parar o papamóvel, tendo ultrapassado as barreiras de segurança que o separavam da população para poder beijar algumas das crianças, conta a Agence France Press.

Antes deste evento, o papa Francisco esteve num encontro com jovens ex-meninos de rua.

No sábado, viajou ao extremo leste das Filipinas para confortar sobreviventes do devastador tufão Haiyan, que atingiu a região em 2013, tendo sido obrigado a abreviar a visita por causa da aproximação de um outra tempestade.

Esta é a quarta visita de um papa às Filipinas e obrigou a uma das maiores operações de segurança realizada pelas forças policiais locais, com cerca de 40 mil militares e agentes envolvidos na operação.

CR/Lusa/France Press

 

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