O Papa uniu-se à tradicional procissão dos católicos indígenas do Canadá ao Lago de Santa Ana, nos arredores de Edmonton, evocando os “traumas da violência sofrida” pelas populações nativas.
“Neste lugar abençoado, onde reinam a harmonia e a paz, apresentamos as desarmonias das nossas histórias, os terríveis efeitos da colonização, a dor indelével de tantas famílias, avós e crianças. Ajudai-nos a curar as nossas feridas”, rezou Francisco, durante a cerimónia que encerrou o terceiro dia da sua viagem.
A reflexão retomou as mensagens deixadas nos encontros com os povos indígenas em Maskwacis e Edmonton, na segunda-feira, com pedidos de perdão do Papa.
“Parte da dolorosa herança que estamos a enfrentar nasce do facto de se ter impedido às avós indígenas de transmitirem a fé na sua língua e na sua cultura. Sem dúvida, esta perda é uma tragédia, mas a vossa presença aqui é um testemunho de resiliência e de recomeço, de peregrinação rumo à cura, de abertura do coração a Deus que sara o nosso sermos comunidade”, indicou.
No dia em que a Igreja Católica celebra a festa litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus, Francisco evocou o “papel vital” das mulheres nas comunidades indígenas.
A intervenção deixou uma saudação às avós presentes e falou dos idosos como um “tesouro” para as famílias, a “herança mais preciosa a amar e proteger”.
“Ocupam um lugar de relevo enquanto fontes abençoadas de vida, não apenas física, mas também espiritual. E, ao pensar nas vossas kokum, recordo também a minha avó. Dela recebi o primeiro anúncio da fé e aprendi que é assim que se transmite o Evangelho: mediante a ternura do trato e da sabedoria da vida”, declarou.
O Papa mostrou-se impressionado com o som dos tambores que o tem acompanhado, desde domingo, no Canadá.
“Neste batimento dos tambores, parecia ecoar o palpitar de muitos corações: os corações que, ao longo dos séculos, vibraram junto destas águas; os corações de tantos peregrinos que concordaram juntos o passo para chegar a este lago de Deus!”, referiu.
O lago de Santa Ana, a cerca de 72 km a oeste de Edmonton, é destino de uma peregrinação católica desde o final do século XIX; milhares de pessoas do Canadá e dos EUA acorrem ao local para rezar e banhar-se nas águas, consideradas sagradas, na maior manifestação da Igreja Católica, nesta região ocidental.
Francisco, que chegou em cadeira de rodas, começou por fazer o sinal da cruz, virado para os quatro pontos cardeais, segundo a tradição indígena, e abençoou as águas do lago, abençoando também os fiéis presentes.
A homilia destacou que Jesus pregou junto a um lago, o chamado Mar da Galileia, “a sede dum inaudito anúncio de fraternidade; duma revolução sem mortos nem feridos, a revolução do amor”.
“Todos nós, como Igreja, precisamos de cura: ser curados da tentação de nos fecharmos em nós mesmos, de escolhermos a defesa da instituição em vez da busca da verdade, de preferirmos o poder mundano ao serviço evangélico”, advertiu.
“A fraternidade é verdadeira se une os distantes, que a mensagem de unidade que o Céu envia à terra não teme as diferenças e convida-nos à comunhão, a recomeçar juntos, porque todos somos peregrinos a caminho”, disse
O Papa elogiou o papel dos missionários “autenticamente evangelizadores”, que ajudaram a “preservar as línguas e culturas autóctones em tantas partes do mundo”.
“Queridos irmãos e irmãs indígenas, vim como peregrino também para vos dizer quão preciosos sois para mim e para a Igreja. Desejo que a Igreja esteja tão unida, como estreitos e unidos estão os fios das faixas coloridas que muitos de vós usais. Que o Senhor nos ajude a avançar no processo de cura, rumo a um futuro sempre mais sadio e renovado”, concluiu.
A celebração da Palavra encerrou-se com a recitação do Pai Nosso e a bênção papal.
A viagem do Papa ao Canadá, entre 24 e 30 de julho, passa pelas cidades de Edmonton, Quebeque e Iqaluit – que abriga o maior número de Inuítes, os membros da nação indígena esquimó.
(Com Ecclesia)