Papa e sete cardeais pedem perdão pelos abusos e pecados da Igreja

O Papa presidiu hoje a uma inédita Vigília Penitencial, na Basílica de São Pedro, em que se ouviu testemunhas de vítimas e deixou um pedido de perdão, com sete cardeais, pelos abusos da Igreja e da sociedade.

“Não poderíamos invocar o nome de Deus sem pedir perdão aos nossos irmãos, à Terra e a todas as criaturas. E como poderíamos ser uma Igreja sinodal sem reconciliação?”, questionou, na reflexão que apresentou nesta celebração, uma novidade no programa da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo.

Os participantes ouviram o testemunho de um sobrevivente de abusos sexuais, de uma migrante africana e de uma vítima da guerra na Síria.

Solange, originária da Costa do Marfim, foi acompanhada por Sara, da Fundação Migrantes, que leu um depoimento no qual comparava os barcos que atravessam o Mediterrâneo aos campos de extermínio nazi, “onde homens e mulheres perderam a sua identidade como indivíduos, como comunidade e como povo, e deixaram de ser pessoas”.

O sul-africano Laurence contou a história de abuso sexual, aos 11 anos de idade, por um membro do clero católico, referindo que “durante décadas, as acusações foram ignoradas ou tratadas internamente, em vez de serem denunciadas às autoridades”.

O testemunho falou num “véu de silêncio” que tem sido usado para ajudar os “perpetradores” dos crimes, permitindo que os abusadores prosseguissem os seus comportamentos.

A intervenção foi saudada pelos presentes com uma salva de palmas.

A irmã Deema, de Homs, na Síria, falou da sua experiência de resistência “não-violenta” num conflito que se arrasta há mais de uma década, em que as partes procuram rotular os outros como “inimigos”, a ponto de “desumanizar e justificar a sua morte, em casos extremos”.

Os sete cardeais que tomaram a palavra, depois dos testemunhos, deixaram um pedido de perdão por atos contra a paz e a vida humana, a natureza, os migrantes e povos indígenas, as mulheres e jovens, as vítimas de abusos sexuais e de poder, os pobres e pelas justificações doutrinais para “tratamentos desumanos”, bem como as falhas na sinodalidade.

No final desta “confissão de pecados”, o Papa dirigiu um pedido de perdão a Deus à humanidade.

“Quis escreves os pedidos de perdão que foram lidos pelos cardeais porque era necessário chamar pelo nome os nossos principais pecados. O pecado é sempre uma ferida nas relações: a relação com Deus e a relação com os irmãos”, explicou.

“Como podemos ser credíveis na missão se não reconhecermos os nossos erros e não nos baixarmos para curar as feridas que causamos com os nossos pecados?”

Francisco alertou para os perigos do “ego”, que retira lugar a Deus, e para a violência, que se torna “cada vez mais hedionda”.

“Na véspera do Sínodo, a confissão é uma oportunidade para restaurar a confiança na Igreja”, acrescentou.

Simbolicamente, após um momento de silêncio, todos os participantes foram convidados a baixar a cabeça, como gesto de arrependimento e pedido de perdão.

O Papa apresentou uma oração, pedindo uma “autêntica conversão” da Igreja.

“Pedimos perdão por todos os nossos pecados, ajuda-nos a restaurar o teu rosto que desfiguramos com a nossa infidelidade. Pedimos perdão, sentindo vergonha, àqueles que foram feridos pelos nossos pecados”, declarou.

A celebração penitencial foi organizada conjuntamente pela Secretaria-Geral do Sínodo e pela Diocese de Roma, em colaboração com a União dos Superiores Gerais (USG) e a União Internacional de Superioras Gerais (UISG).

(Com Ecclesia e Vatican News)

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