Papa desafia à humildade em “sociedade obcecada pela aparência”

Foto: Vatican Media

O Papa presidiu hoje no Vaticano ao décimo consistório do seu pontificado, para a criação de 21 cardeais, apelando à humildade numa sociedade “obcecada pela aparência” e pela “busca dos primeiros lugares”.

“Pode acontecer que o nosso coração se perca pelo caminho, deixando-se deslumbrar pelo fascínio do prestígio, pela sedução do poder, por um entusiasmo demasiado humano pelo Senhor”, alertou Francisco, na homilia da celebração que decorreu na Basílica de São Pedro.

Entre os novos cardeais estão o arcebispo de Teerão e vários colaboradores da Cúria Romana, num total de 20 eleitores, a que se somam o antigo núncio apostólico D. Angelo Acerbi, com 99 anos de idade, que proferiu a saudação ao pontífice em nome de todo o grupo.

“A aventura do caminhar, a alegria de encontrar os outros, o cuidado com os mais frágeis: isso deve animar o vosso serviço como cardeais”, disse o Papa aos novos membros do Colégio Cardinalício.

Francisco desafiou os presentes a colocar-se “humildemente diante de Deus” e questionar o rumo que segue o seu coração, para poder “caminhar na estrada de Jesus”.

“Na vida espiritual, assim como na vida pastoral, às vezes corremos o risco de nos concentrarmos naquilo que é acessório, esquecendo-nos do essencial. Com muita frequência, coisas secundárias tomam o lugar do que é indispensável, as superficialidades prevalecem sobre o que realmente importa, mergulhamos em atividades que consideramos urgentes, sem conseguir chegar ao coração”, afirmou.

O Papa assinalou a necessidade de “voltar ao centro”, para dar prioridade a Cristo, na vida da fé e no serviço à Igreja.

“Caminhar na estrada de Jesus também significa cultivar a paixão do encontro. Jesus nunca percorre o caminho sozinho; o seu vínculo com o Pai não o isola dos acontecimentos e da dor do mundo”, observou.

Francisco pediu atenção para os “rostos das pessoas marcadas pelo sofrimento”, apresentando Cristo como “o ponto de apoio fundamental”.

A intervenção sublinhou que cada um dos novos cardeais deve ser “construtor de comunhão e unidade”, alertando para o risco de divisões nas comunidades católicas.

“Lançando o seu olhar sobre vós, vindos de diferentes histórias e culturas, que representais a catolicidade da Igreja, o Senhor chama-vos a serdes testemunhas da fraternidade, artesãos da comunhão e construtores da unidade. Esta é a vossa missão”, declarou o Papa.

“Na estrada de Jesus, vamos caminhar juntos. Caminhemos com humildade, com espanto, com alegria”, disse ainda.

A celebração começou com a saudação dos novos cardeais, antes da oração proferida por Francisco e a proclamação do Evangelho, por uma leitora.

Após a homilia, o Papa leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; segue-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.

Francisco entrega ainda um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, bem como a entrega da bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.

Cada cardeal é inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais.

Este domingo, solenidade da Imaculada Conceição, o Papa e os membros do Colégio Cardinalício celebram a Missa na Basílica do Vaticano, pelas 09h30 locais.

Este foi o décimo consistório do atual pontificado, após os realizados a 22 de fevereiro de 2014, 14 de fevereiro de 2015, 19 de novembro de 2016, 28 de junho de 2017, 28 de junho de 2018, 5 de outubro de 2019, 28 de novembro de 2020, 27 de agosto de 2022 e 30 de setembro de 2023.

A partir de hoje, 110 dos 140 eleitores num eventual conclave são cardeais escolhidos pelo Papa Francisco – a que se somam 24 por Bento XVI e seis por São João Paulo II.

Em outubro, o Papa escreveu aos 21 novos cardeais, pedindo-lhes que estejam atentos aos cenários de “dor e de sofrimento”, no mundo, numa atitude de serviço. 

A mensagem defende que o cardinalato seja vivido “pés descalços, que tocam a aspereza da realidade de muitos cantos do mundo, embriagados de dor e sofrimento por causa das guerras, das discriminações, das perseguições, da fome e das numerosas formas de pobreza”, que exigem “compaixão e misericórdia.

“Grato pela tua generosidade, rezo por ti, a fim de que o título de servidor’ – diácono – ofusque cada vez mais o de ‘eminência’”, escreveu Francisco.

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