Celebração conclusiva do Ano Santo extraordinário deixou mensagem centrada na reconciliação e no perdão
O Papa presidiu hoje no Vaticano à cerimónia conclusiva do Ano Santo extraordinário, o Jubileu da Misericórdia, e defendeu uma Igreja Católica “livre” e “pobre” para melhor cumprir a sua missão.
“Este tempo de misericórdia chama-nos a contemplar o verdadeiro rosto do nosso Rei, aquele que brilha na Páscoa, e a descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor, missionária”, disse, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.
Na Missa da Solenidade de Cristo-Rei, com vários membros do Colégio Cardinalício, incluindo os que foram criados cardeais este sábado, Francisco convidou todos a não fechar nunca as “portas da reconciliação e do perdão”, para saber “ultrapassar o mal e as divergências, abrindo todas as vias possíveis de esperança”.
“Com efeito, embora se feche a Porta Santa, continua sempre escancarada para nós a verdadeira porta da misericórdia que é o Coração de Cristo”, sustentou, após ter iniciado a celebração com o rito de encerramento da porta jubilar na Basílica do Vaticano.
O pontífice argentino rejeitou a busca de “seguranças gratificantes” por parte da Igreja, que deve procurar “regressar ao essencial”, ao “coração do Evangelho”, que é a misericórdia.
“Quantas vezes nos sentimos tentados a descer da cruz! A força de atração que tem o poder e o sucesso pareceu um caminho mais fácil e rápido para difundir o Evangelho, esquecendo depressa como atua o reino de Deus”, advertiu.
Francisco apresentou uma reflexão sobre a “realeza perene e humilde de Jesus”, a respeito da solenidade de Cristo-Rei, que assinala também o final do ano litúrgico.
O “domínio de amor” de Jesus Cristo, explicou, exige uma resposta pessoal, que não ceda à tentação da busca “glória” e do “sucesso”, com a certeza de que, com Deus, “é sempre possível recomeçar, levantar-se”.
O Papa quis evocar os “muitos peregrinos” que atravessaram as Portas Santas nas catedrais e santuários de todo o mundo, “longe do fragor dos noticiários”.
“Agradeçamos ao Senhor por isso e recordemo-nos de que fomos investidos em misericórdia para nos revestirmos de sentimentos de misericórdia, para nos tornarmos, nós também, instrumentos de misericórdia”, concluiu.
O Papa Francisco encerrou hoje o Jubileu da Misericórdia, iniciado a 8 de dezembro de 2015, o 29.º Ano Santo na história da Igreja Católica, fechando a Porta Santa da Basílica de São Pedro, a última ainda aberta em todo o mundo.
A clausura da porta, que apenas se abre nos Anos Santos (29 até hoje, na história da Igreja Católica), decorreu antes da Missa a que o Papa preside na Praça de São Pedro.
O primeiro gesto do Jubileu da Misericórdia aconteceu com a abertura da Porta da Misericórdia em Bangui, a 29 de novembro de 2015, na visita de Francisco à República Centro-Africana; a Porta Santa do Vaticano foi aberta a 8 de dezembro.
Francisco promoveu catequeses especiais, em audiências jubilares aos sábados, acolheu visitas de presos, sem-abrigo ou doentes, entre outros, para jubileus particulares, e recordou a importância das obras de misericórdia, corporais e espirituais, que a Igreja Católica propõe aos seus fiéis.
O próprio Papa levou a cabo iniciativas “surpresa” nas chamadas “sextas-feiras da Misericórdia”, nas quais visitou, entre outros, doentes em estado vegetativo, uma comunidade de toxicodependentes, pessoas com deficiências mentais graves, padres, mulheres “libertadas de redes de prostituição”, bebés prematuros ou uma ‘Aldeia SOS’ para crianças.
Francisco presidiu na Polónia à Jornada Mundial da Juventude, tendo passado em silêncio pelos campos de concentração nazis de Auschwitz-Birkenau.
Milhões de pessoas passaram por Roma para atravessar a Porta Santa, em peregrinação e para as várias celebrações presididas pelo Papa, com destaque para a canonização de Madre Teresa de Calcutá, a 4 de setembro.
Em entrevista divulgada pelo jornal católico italiano ‘Avvenire’, Francisco disse que o terceiro Ano Santo extraordinário da Igreja quis sublinhar que “a misericórdia é o nome de Deus” e recordar a importância do “perdão”.
“Não fiz um plano. Fiz apenas aquilo que o Espírito Santo me inspirava e as coisas aconteceram”, acrescenta o Papa, a respeito do programa levado a cabo nos últimos 12 meses.
O pontífice argentino evoca a memória de João XXIII, que deu início ao Concílio Vaticano II em 1962, e de Paulo VI, que o concluiu em 1965, como fontes de inspiração para o tema da misericórdia.
“Depois houve o ensinamento de São João Paulo II, com a sua segunda encíclica, ‘Rico em Misericórdia’, e a instituição da festa da Divina Misericórdia. Bento XVI disse que o nome de Deus é misericórdia”, acrescentou.
Ao longo do Jubileu, Francisco visitou refugiados na ilha grega de Lesbos com o patriarca de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu; encontrou-se em Cuba com o patriarca ortodoxo de Moscovo, Cirilo; e participou na comemoração conjunta dos 500 anos da reforma luterana, na Suécia.
O Papa sublinha que este percurso ecuménico “já vem de longe” e é um caminho que se “intensifica” com o passar do tempo.
(Com Ecclesia e Lusa)