Francisco, acompanhado por Bento XVI, lembra cristãos perseguidos e vítimas das guerras.
O Papa Francisco criou hoje os primeiros cardeais do seu pontificado, numa cerimónia que ficou marcada pela presença do seu predecessor Bento XVI, e apelou à paz e ao fim das perseguições religiosas no mundo.
“A Igreja precisa da vossa compaixão, sobretudo neste momento de tribulação e sofrimento em tantos países do mundo. Queremos exprimir a nossa proximidade espiritual às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que sofrem discriminações e perseguições”, disse Francisco, na homilia da celebração, que decorreu na Basílica de São Pedro, Vaticano.
“Temos de lutar contra qualquer discriminação”, acrescentou, pedindo que os novos cardeais sejam “homens de paz”.
A celebração contou, pela primeira vez, com a presença pública na Basílica do Vaticano do Papa emérito, Bento XVI, que se sentou na primeira fila, junto ao presbitério.
O Papa convidou a rezar por “todo o homem e mulher que sofre injustiça por causa das suas convicções religiosas”.
“A Igreja precisa da nossa oração em favor deles, para que sejam fortes na fé e saibam reagir ao mal com o bem”, precisou.
Francisco invocou “a paz e a reconciliação” para os povos que “vivem provados pela violência e a guerra”.
“A Igreja precisa de nós também como homens de paz, precisa que façamos a paz com as nossas obras, os nossos desejos, as nossas orações”, disse participantes na celebração, entre os quais se incluíam os três cardeais portugueses, D. José Saraiva Martins, D. José Policarpo e D. Manuel Monteiro de Castro.
A homilia papal retomou a palavra “caminhar” que Francisco tinha pronunciado na primeira Missa a que presidiu, após o conclave de março de 2013.
“Isto é uma coisa que impressiona nos Evangelhos: Jesus caminha muito e instrui os seus discípulos ao longo do caminho. Isto é importante. Jesus não veio para ensinar uma filosofia, uma ideologia, mas um ‘caminho’, uma estrada que se deve percorrer com Ele”, explicou.
O Papa argentino sublinhou que este caminho é o da “cruz”, que deve ser hoje para os católicos um sinal de “esperança”.
“Contudo, sendo também nós humanos, pecadores, estamos sujeitos à tentação de pensar à maneira dos homens e não de Deus”, observou.
Francisco disse que as consequências dessa “maneira mundana” de pensar, da “mentalidade do mundo” são “as rivalidades, as invejas, as fações”.
“Obrigado, irmãos caríssimos, obrigado. Caminhemos juntos atrás do Senhor e deixemo-nos cada vez mais convocar por Ele, no meio do povo fiel, ao santo povo fiel de Deus, da Santa Mãe Igreja”, concluiu.
Do grupo de 19 novos cardeais, D. Loris Capovilla, com 98 anos, esteve ausente da celebração na Basílica de São Pedro, por motivos de saúde, e irá receber o barrete e o anel pelas mãos de um enviado especial, como anunciou o Papa, numa cerimónia que decorrerá a 1 de março em Sotto il Monte (Itália), terra natal do Beato João XXIII, do qual era secretário.
O cardeal costa-marfinense D. Jean-Pierre Kutwa, estava numa cadeira de rodas e foi o Papa Francisco a deslocar-se ao seu encontro, para lhe impôr o barrete e o anel cardinalícios.
Delegações oficiais de 15 países acompanharam a celebração, no dia da festa litúrgica da Cátedra de São Pedro, com destaque para as presenças dos presidentes do Brasil e do Haiti, Dilma Rousseff e Michel Martelly.