“Muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contacto: os idosos não nos dizem respeito – pensam elas – e é conveniente que estejam o mais longe possível, talvez juntos uns com os outros, em estruturas que cuidem deles”, escreve Francisco.
O texto, divulgado pelo Vaticano, aponta ao que o Papa tem chamado de “cultura do descarte”, realçando que “os idosos não são proscritos” e têm um papel a desempenhar, na Igreja e na sociedade.
A mensagem evoca os cenários de crise provocados pela pandemia e a guerra na Ucrânia, alertando para “outras ‘epidemias’ e outras formas generalizadas de violência que ameaçam a família humana e a casa comum”.
“Não é um acaso que a guerra tenha voltado à Europa no momento em que está a desaparecer a geração que a viveu no século passado”, indica.
“Temos necessidade duma mudança profunda, duma conversão, que desmilitarize os corações, permitindo a cada um reconhecer no outro um irmão. E nós, avós e idosos, temos uma grande responsabilidade: ensinar às mulheres e aos homens do nosso tempo a contemplar os outros com o mesmo olhar compreensivo e terno que temos para com os nossos netos”.
Francisco desafia os idosos a assumir a missão de ser “mestres dum modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis”.
“Guardemos no nosso coração – como fazia São José, pai terno e solícito – os pequeninos da Ucrânia, do Afeganistão, do Sudão do Sul”, acrescenta.
A mensagem, com o título ‘Dão fruto mesmo na velhice’ (Sl 92, 15), assinala que a velhice pode ser “difícil de entender”, já que “as sociedades mais desenvolvidas gastam muito para esta idade da vida, mas não ajudam a interpretá-la, proporcionam planos de assistência, mas não projetos de existência”.
“Por um lado, somos tentados a exorcizar a velhice, escondendo as rugas e fingindo ser sempre jovens, por outro parece que nada mais se possa fazer senão viver desiludidos, resignados a não ter mais ‘frutos para dar’”, adverte.
“Envelhecer não é apenas a deterioração natural do corpo ou a passagem inevitável do tempo, mas também o dom duma vida longa. Envelhecer não é uma condenação, mas uma bênção”.
O Papa realça a importância de uma “velhice ativa”, também do ponto de vista espiritual, para assumir uma “nova missão”.
“Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Ternura, que faça de todos nós dignos artífices da revolução da ternura para, juntos, libertarmos o mundo da sombra da solidão e do demónio da guerra”, refere.
Francisco pede que este II Dia Mundial dos Avós e Idosos seja assinalado em todas paróquias e comunidades, em particular junto dos idosos mais abandonados, em casa ou nas residências onde estão hospedados.
“Procuremos que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e dum primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo”, conclui.
O Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (Santa Sé) aponta duas modalidades concretas para viver o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos: “celebrar em cada paróquia uma Missa dedicada aos idosos e ir ao encontro dos que não costumam receber visitas”.
(Com Ecclesia)