Francisco alertou para situação de «guerra mundial» perante diplomatas acreditados junto da Santa Sé
O Papa Francisco condenou hoje no Vaticano os atentados que atingiram recentemente a França, o Paquistão e a Nigéria, bem como a ação do autoproclamado ‘Estado Islâmico’ no Médio Oriente, pedindo o fim do fundamentalismo.
“Espero que os líderes religiosos, políticos e intelectuais, especialmente muçulmanos, condenem qualquer interpretação fundamentalista e extremista da religião que tenda a justificar tais atos de violência”, apelou, perante os membros do corpo diplomático acreditados junto da Santa Sé, para o tradicional encontro de ano novo.
O Papa apelou a uma resposta “unânime” da comunidade internacional para travar a violência e “em defesa de quantos sofrem as consequências da guerra e da perseguição”.
“O fundamentalismo religioso, ainda antes de descartar os seres humanos perpetrando horrendos massacres, rejeita o próprio Deus, relegando-o a mero pretexto ideológico”, declarou ainda.
Francisco recordou a carta que enviou às comunidades cristãs do Médio Oriente, antes do Natal, para sublinhar que esta região ficaria “desfigurada e mutilada” sem a sua presença.
O discurso recordou a viagem pontifícia à Terra Santa, em maio de 2013, sublinhando a necessidade de diálogo e de paz, com o reconhecimento da solução dos “dois Estados”, Israel e Palestina.
A respeito da Nigéria, atingida por vários atentados, o Papa alertou para o “trágico fenómeno do sequestro de pessoas”, outro dos sinais do que denominou como mentalidade de “rejeição” no atual cenário mundial.
“Um triste eco disso mesmo, encontramo-lo em numerosos factos referidos nas notícias quotidianas, como o trágico massacre que há dias sucedeu em Paris”, recordou, evocando também as crianças assassinadas numa escola do Paquistão.
O Papa sustentou que a humanidade vive uma “verdadeira guerra mundial, combatida aos bocados”, como na Ucrânia, a Líbia, a República Centro-Africana, o Sudão do Sul e algumas regiões do Sudão, o Corno de África e a República Democrática do Congo.
“Desejo um compromisso conjunto dos vários governos e da comunidade internacional, para que se ponha fim a qualquer espécie de luta, ódio e violência e se empenhem em favor da reconciliação, da paz e da defesa da dignidade transcendente da pessoa”, prosseguiu.
Francisco manifestou a sua condenação a crimes de guerra como as violações, lembrando depois as vítimas da “terrível epidemia de Ébola”, as “vidas descartadas por causa das guerras ou das doenças”, os deslocados e refugiados, os migrantes que “ perdem a vida em viagens desumanas”.
O Papa retomou um dos alertas que tem vindo a repetir no seu pontificado, alertando para os “exilados escondidos” no seio das famílias e sociedades: “Penso sobretudo nos idosos e nos deficientes, bem como nos jovens”.
“Tudo isto é contrário à dignidade humana e deriva duma mentalidade que põe no centro o dinheiro, os benefícios e os lucros económicos em detrimento do próprio homem”, precisou.
Também o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, manifestou hoje preocupação por estes ataques extremistas
Num breve comentário aos atentados de Paris, D. Manuel Clemente disse estar a acompanhar com “grande preocupação e solidariedade” os acontecimentos dos últimos dias, em declarações ao jornal diocesano “Voz da Verdade”.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa considera “importante que a sociedade se manifeste e se insurja contra algo que é intolerável”.
“Existem, nas sociedades europeias e noutras sociedades do mundo, conquistas que são irrecusáveis e que têm a ver com os direitos humanos, onde está o direito à vida, à liberdade e à responsabilidade de expressão e o direito a ser considerado naquilo que são as convicções e na expressão das ideias”, assinalou.
“Estes direitos, que também têm deveres, são irrenunciáveis”, sublinhou o patriarca de Lisboa, esta tarde na Nazaré, à margem da Visita Pastoral à Vigararia de Alcobaça-Nazaré.