Sítio Igreja Açores apresenta dossiê com vários textos de opinião sobre estes dois anos de pontificado de Francisco
O Papa vai completar esta sexta-feira dois anos de pontificado, marcados pela preocupação com as “periferias” geográficas e existenciais da humanidade, que exigem respostas da Igreja e da sociedade.
Francisco tem apelado a uma Igreja “em saída” e atenta aos mais frágeis, centrando o seu discurso, teologicamente, na “misericórdia” que renova as atitudes dos católicos.
“O povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo”, escreveu, na mensagem para a Quaresma de 2015
O Papa defende que a Igreja Católica tem de estar junto dos “marginalizados” e rejeita a formação de uma “casta” que exclui quem sofre da vida eclesial, como disse no último consistório, em fevereiro, durante a criação de 19 cardeais, incluindo o português D. Manuel Clemente.
Este “evangelho dos marginalizados” tem inspirado gestos e discursos do Papa em várias áreas, com destaque para os temas ligados à defesa da vida e do matrimónio, reafirmando a doutrina da Igreja Católica ao mesmo tempo que pede atenção a cada situação particular.
Francisco, primeiro pontífice a escolher este nome, mantém a sua residência na Casa de Santa Marta, dentro do Vaticano, onde celebra diariamente uma Missa matinal, e continua a deslocar-se em carros utilitários, apresentando-se como um “homem normal”.
Na sua biografia oficial, disponibilizada pela Santa Sé lê-se que “É uma figura de destaque no continente inteiro e um pastor simples e muito amado na sua diocese, que conheceu de lés a lés, viajando também de metro e de autocarro, durante os quinze anos do seu ministério episcopal”.
“O meu povo é pobre e eu sou um deles”, disse várias vezes para explicar a escolha de morar num apartamento e de preparar o jantar sozinho.
Aos seus sacerdotes sempre recomendou misericórdia, coragem apostólica e portas abertas a todos. A pior coisa que pode acontecer na Igreja, explicou nalgumas circunstâncias, «é aquilo ao que de Lubac chama “mundanidade espiritual”, que significa “pôr-se a si mesmo no centro”.
E quando cita a necessidade de justiça social, convida em primeiro lugar a retomar nas mãos o catecismo, a redescobrir os dez mandamentos e as bem-aventuranças. O seu programa é simples: se seguirmos Cristo, compreenderemos que “espezinhar a dignidade de uma pessoa é pecado grave”.
O Papa tem mantido contactos com o seu predecessor, Bento XVI, que convidou a participar em várias celebrações e do qual retomou reflexões que deram origem à encíclica ‘Luz da Fé’, a única publicada durante o pontificado, esperando-se que o próximo documento do género (os mais importantes assinados por um pontífice), dedicado ao tema do ambiente, seja publicado nos próximos meses.
Francisco tem apelado à paz nas várias regiões do mundo afetadas por conflitos, assumindo a defesa dos cristãos no Médio Oriente, perseguidos pelo autoproclamado ‘Estado Islâmico’, e criticando quem justifica ataques terroristas com as suas convicções religiosas, porque “não se pode fazer a guerra em nome de Deus”.
Após os atentados de Paris, no início deste ano, o Papa afirmou que o uso da liberdade de expressão exige a virtude da “prudência”, para evitar ofender o outro e provocar reações violentas.
Outra das suas preocupações tem sido a promoção do encontro entre gerações, tendo mesmo afirmado que o abandono de pais e avós é um “pecado mortal”, em particular numa Europa ameaçada por “doenças” como a “solidão” e as consequências da crise económica e social.
Ainda neste contexto, sustentou que a geração dos filhos deve ser responsável, rejeitando a ideia de que “para ser bons católicos é preciso ser como os coelhos” mas criticou quem pensa que ter mais filhos é “automaticamente” uma “escolha irresponsável”.
Depois de várias críticas a um sistema económico e financeiro injusto, que “mata”, o Papa criticou no final de fevereiro os que se aproveitam do desemprego para contratar funcionários por salários baixos.
Nos sinais que deu, visitou várias zonas do globo, reunindo a maior enchente nas Filipinas. Foi ao Brasil, Terra Santa, Coreia do Sul, Albânia, Estrasburgo e Turquia. Realizou, ainda quatro viagens em Itália, incluindo a ilha de Lampedusa e o cemitério militar de Redipuglia (para evocar o centenário do início da I Guerra Mundial), para além de outras visitas a paróquias na Diocese de Roma.
O futuro próximo inclui, além da nova encíclica e da assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a família, em outubro, viagens a Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, à América Latina (Equador, a Bolívia e o Paraguai), Estados Unidos da América (Filadélfia, para o Encontro Mundial das Famílias, e Washington) e França.
O Sítio Igreja Açores pediu a uma série de personalidades entre sacerdotes e leigos, de gerações e áreas de influência diferentes, que dessem um testemunho na primeira pessoa sobre este Pontificado que rejuvenesceu a forma de estar e de ser da Igreja no mundo.
Entre eles estão Eduardo Paz Ferreira, professor catedrático; Maria do Céu Patrão Neves, professora catedrática; Renato Moura, ex deputado; Pe Abel Vieira (Praia da Vitória); Pe João Chaves (Livramento); Pe Marco Martinho (Ouvidor do Pico); Pe Júlio Rocha (Professor Teologia Moral); Pe Ricardo Tavares (Professor de Educação Moral e Religiosa Católica); Monsenhor Weber Machado; Leonarda Dias(Jornalista); Terra Garcia (jornalista); Nuno Pacheco de Sousa (Seminarista); Ana Abelha (Socióloga); Dina e Armando Silva (Professores do Ensino Secundário).
CR/Ecclesia (com apoio da biografia oficial da Santa Sé)