O Papa dirigiu hoje uma mensagem em vídeo ao povo do Iraque, na véspera da sua viagem ao país, apresentando-se como “peregrino” em busca de paz num território devastado pela violência.
“Desejo muito encontrar-me com todos vós, visitar a vossa terra, antigo e extraordinário berço da civilização. Vou como peregrino, como peregrino penitente, para implorar perdão e reconciliação do Senhor depois de anos de guerra e terrorismo, para pedir a Deus consolo para os corações e cura para as feridas”, refere Francisco, numa intervenção divulgada pelo Vaticano.
A mensagem retoma o tema da viagem, ‘Sois todos irmãos’, uma passagem do Evangelho segundo São Mateus (Mt 23,8).
“Vou como peregrino da paz em busca de fraternidade, animado pelo desejo de rezar juntos e caminhar juntos, também com irmãos e irmãs de outras tradições religiosas, unidos pelo pai Abraão, que reúne numa só família muçulmanos, judeus e cristãos”.
O Papa vai passar por Bagdade, Najaf, Ur – a terra natal do patriarca Abraão -, Erbil – capital do Curdistão iraquiano –, Mossul e Qaraqosh.
Em 2003, havia cerca de 1,4 milhões de cristãos no Iraque, mas estima-se que hoje sejam cerca de 250 mil, uma diminuição de mais de 80% em menos de duas décadas.
Antes do exílio, a maioria dos cristãos estava na província de Nínive, cuja capital é Mossul, particularmente atingida pela ação do Daesh.
Francisco afirma que se sente honrado por conhecer uma Igreja “mártir”.
“Obrigado pelo vosso testemunho. Que os muitos, demasiados mártires que conhecestes nos ajudem a perseverar na humilde força do amor”, assinala.
O Papa convida todos a resistir à “propagação do mal”, imitando Abraão que, “embora tenha deixado tudo, nunca perdeu a esperança”
“Gostaria de vos levar a carícia afetuosa de toda a Igreja, que está próxima de vós e do mortificado Médio Oriente e vos encoraja a seguir em frente. Não permitamos que prevaleçam os terríveis sofrimentos que sofrestes e que tanto me afligem”, declara.
Recordando os sofrimentos do povo iraquiano – cristãos, muçulmanos e yazidi – o Papa fala numa “terra abençoada e ferida”, onde se apresenta “como peregrino de esperança”.
Francisco recorda em particular a planície de Nínive, referida no Antigo Testamento e ligada à profecia de Jonas, “que impediu a destruição e trouxe uma nova esperança, a esperança de Deus”.
“Deixemo-nos contagiar por esta esperança, que nos encoraja a reconstruir e a recomeçar””, apela.
A agenda papal inclui encontros com a comunidade católica, que tem 590 mil pessoas, cerca de 1,5% da população iraquiana, além de cristãos de outras Igrejas e confissões religiosas, líderes políticos e o grande aiatola Ali Sistani, a maior autoridade xiita do país.
“Irmãos e irmãs de todas as tradições religiosas. Desta terra, há milénios, Abraão começou a sua viagem. Hoje cabe-nos a nós continuá-la, com o mesmo espírito, caminhando juntos pelos caminhos da paz! Por esta razão, invoco sobre vós toda a paz e a bênção do Altíssimo. E peço a todos vós que façais o mesmo que Abraão: caminhai com esperança e nunca deixeis de olhar para as estrelas. E peço a todos vós, por favor, que me acompanheis com a oração. Shukran! [Obrigado]”
A 33ª viagem apostólica fora da Itália do Papa, a primeira desde o início da pandemia, acontece a convite da República do Iraque e da Igreja Católica local, com passagens por Bagdade, Najaf, a planície de Ur – ligada à memória de Abraão -, Erbil, Mossul e Qaraqosh, na planície de Nínive.
(Com Ecclesia)