O Papa apelou hoje, desde o Vaticano, ao desarmamento nuclear e alertou para “erosão do multilateralismo”, numa intervenção em vídeo para a 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a decorrer em Nova Iorque.
“Temos de perguntar-nos se as principais ameaças à paz e à segurança, como a pobreza, epidemias e terrorismo, entre outras, podem ser efetivamente enfrentadas quando a corrida armamentista, incluindo às armas nucleares, continua a desperdiçar recursos preciosos”, referiu Francisco, numa intervenção em espanhol.
Os trabalhos da 75.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, órgão constituído por representantes dos 193 Estados-membros da organização, começaram na última semana; o debate geral teve início na terça-feira.
O Papa lamentou o “clima de desconfiança existente” no cenário global, convidando os responsáveis políticos a “apoiar os principais instrumentos jurídicos internacionais de desarmamento, não proliferação e proibição nuclear”.
“Estamos a testemunhar uma erosão do multilateralismo que é ainda mais grave à luz das novas formas de tecnologia militar”, advertiu Francisco, com referência específica aos sistemas de armas autónomas letais, “alterando irreversivelmente a natureza da guerra, separando-a ainda mais da ação humana”.
“O uso de armas explosivas, especialmente em áreas povoadas, tem um impacto humano dramático, a longo prazo. Nesse sentido, as armas convencionais estão a tornar-se cada vez menos ‘convencionais’ e cada vez mais ‘armas de destruição em massa’, arrasando cidades, escolas, hospitais, locais religiosos, infraestrutura e serviços básicos para a população”, afirma.
Nos 75 anos da Organização das Nações Unidas, o Papa destacou a importância de trabalhar pela paz, “o que exige que os membros do Conselho de Segurança, especialmente os permanentes, atuem com maior unidade e determinação”.
“Também reitero a importância de reduzir as sanções internacionais que dificultam aos Estados o apoio adequado às suas populações”, acrescentou.
A intervenção deixou várias denúncias a violações de “direitos fundamentais”, recordando as perseguições religiosas, “incluindo genocídio”.
“Devemos também admitir que as crises humanas se tornaram o status quo, onde os direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal não são garantidos”, disse.
Francisco falou dos cristãos que sofrem no mundo, “obrigados a fugir das suas terras ancestrais, isolados da sua rica história e cultura.
O Papa falou dos impactos da pandemia, destacando que ninguém “sai igual” de uma crise como esta.
“A pandemia mostrou-nos que não podemos viver sem os outros, ou pior, uns contra os outros. As Nações Unidas foram criadas para unir as nações, para aproximá-las, como uma ponte entre os povos: vamos usá-la para transformar o desafio que enfrentamos numa oportunidade de construirmos juntos, mais uma vez, o futuro que desejamos”, concluiu.
Esta foi a segunda vez que o Papa se dirigiu à Assembleia Geral da ONU, depois de ter estado em Nova Iorque, a 25 de setembro de 2015.
Antes de Francisco, estiveram na sede das Nações Unidas Paulo VI (1964), João Paulo II (1979 e 1995) e Bento XVI (2008).
(Com Ecclesia)