O Papa alertou hoje para os “ventos gélidos” da guerra que persistem sobre a Europa, evocando em particular a situação na Ucrânia e a crise provocada pelos refugiados.
“As movimentações de muitas pessoas colocam na ordem do dia questões humanitárias urgentes”, disse Francisco, desde a janela do apartamento pontifício, ao saudar os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro para recitar a oração pascal do ‘Regina Coeli’.
A intervenção projetou a viagem do Papa à Hungria, que vai decorrer de 28 a 30 de abril.
“Será uma viagem ao centro da Europa, sobre a qual se continuam a soprar gélidos ventos de guerra”, advertiu.
“Não nos esqueçamos dos nossos irmãos e irmãs ucranianos, ainda atingidos por esta guerra”, acrescentou Francisco.
O Papa quis deixar uma mensagem de afeto à população húngara, que prepara “com muito empenho” esta visita.
“Agradeço-vos de coração, por isto, e peço a todos vós que me acompanheis com a oração, nesta viagem”, declarou.
Com o lema ‘Cristo é a nossa esperança’, a visita à Hungria será a 41ª viagem internacional do pontificado e representa um regresso a Budapeste, onde Francisco presidiu, em 2021, à Missa de encerramento do 52.º Congresso Eucarístico Internacional.
Desde o início da guerra na Ucrânia, cerca de um milhão de refugiados provocados pela invasão russa passaram pela Hungria, rumo a outros países europeus.
O programa da visita inclui encontros com migrantes e pobres, tendo sido acrescentada uma reunião com a comunidade greco-católica, particularmente representada na Ucrânia.
A comitiva do Papa vai incluir o prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, D.Claudio Gugerotti.
Na sua intervenção deste domingo, Francisco aludiu ainda à “grave a situação no Sudão”, onde há uma semana rebentaram conflitos entre as Forças Armadas, que lideram o país desde o golpe de Estado de outubro de 2021, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, sigla em inglês).
A partir do evangelho proclamado este domingo, o Papa disse que é possível “reler” os acontecimentos diários, com a ajuda de um “breve exame de consciência”, sugerindo essa prática a todos os católicos.
“Reler o dia com Jesus, reler o meu dia: abrir-lhe o coração, levar-lhe as pessoas, as escolhas, os medos, as quedas e as esperanças, tudo o que aconteceu, para aprender gradualmente a olhar as coisas com outros olhos, com os seus e não apenas com os nossos”, explicou, falando antes da recitação da oração pascal do ‘Regina Coeli’.
A intervenção partiu da passagem do Evangelho segundo São Lucas, lida nas celebrações deste terceiro domingo de Páscoa, na qual se narra o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús, “dois discípulos que, resignados com a morte do Mestre, no dia de Páscoa decidem deixar Jerusalém e voltar para casa”.
Francisco destacou que, enquanto caminham, Jesus ajuda-os a “reler os factos” de uma maneira diferente.
“Também para nós é importante reler a nossa história junto com Jesus: a história da nossa vida, de um determinado período, dos nossos dias, com as desilusões e esperanças”, insistiu.
O Papa sublinhou que, na vida espiritual, é necessário “contar tudo a Jesus, com sinceridade, sem medo de incomodá-lo”.
“Ele escuta, sem medo de dizer coisas erradas, sem nos envergonharmos de nossa dificuldade em entender”, prosseguiu.
“Diante do amor de Cristo, até o que parece cansativo e malsucedido pode aparecer sob outra luz: uma cruz difícil de abraçar, a escolha do perdão diante de uma ofensa, uma vingança fracassada, o cansaço do trabalho, a sinceridade que custa, as provações da vida familiar poderão aparecer-nos sob uma luz nova, a do Crucificado Ressuscitado, que sabe fazer de cada queda um passo em frente”.
O Papa convidou a “retirar as defesas” do coração e “deixar tempo e espaço para Jesus”.
“Podemos começar hoje, dedicando esta noite um momento de oração”, recomendou.
Francisco deixou algumas sugestões de perguntas, para ajudar cada um a “reler” o seu dia.
“Houve um pouco de amor no que eu fiz? Quais são as quedas, as tristezas, as dúvidas e medos para levar a Jesus a fim de que Ele me abra novos caminhos, me levante e me encoraje?”, elencou.
Após a oração, o Papa recordou o Dia Mundial da Terra, celebrado a 22 de abril, desejando que o esforço de preservação da natureza seja acompanhado por uma “efetiva solidariedade com os mais pobres”.
(Com Ecclesia)