O Papa alertou hoje para as consequências da solidão e da “inveja” na vida dos sacerdotes, pedindo que bispos e padres promovam relações de proximidade.
“Em muitos presbíteros, vai-se consumando o drama da solidão, de se sentirem sozinhos. Sentimo-nos não dignos de paciência, de consideração; antes, parece que do outro nos vem o julgamento, não o bem, nem a benignidade”, assinalou, na conferência de abertura do Simpósio Internacional ‘Para uma Teologia Fundamental do Sacerdócio’.
Num discurso proferido no Auditório Paulo VI, Francisco considerou que a inveja está muito presente nas comunidades sacerdotais, falando numa “porta para a destruição”, que se sente até nos processos de nomeação de novos bispos.
“O outro é incapaz de se alegrar com o bem que nos acontece na vida, ou então sou eu que me sinto incapaz de me alegrar quando vejo o bem na vida dos outros. Esta incapacidade é a inveja, quero sublinhar isto, que tanto atormenta os nossos ambientes”, advertiu.
Francisco criticou o que designou como formas “clericais” de bullying, convidando todos a deixar de parte o “ressentimento”.
“O amor verdadeiro compraz-se com a verdade e considera um pecado grave atentar contra a verdade e a dignidade dos irmãos através de calúnias, maledicências, falatórios”, indicou.
O Papa destacou a importância da fraternidade sacerdotal e dos “laços de verdadeira amizade”, que permitem viver com mais serenidade a opção celibatária.
O celibato é um dom que a Igreja latina guarda; mas, para ser vivido como santificação, necessita de relações sadias, relações de verdadeira estima apostando no bem autêntico, cuja raiz está em Cristo. Sem amigos e sem oração, o celibato pode tornar-se um peso insuportável e um contratestemunho da própria beleza do sacerdócio”.
A conferência destacou a importância de uma relação de proximidades entre os padres e o seu bispo, refletindo em particular sobre a obediência.
“Obedecer significa aprender a escutar, lembrando-se de que ninguém se pode arvorar em detentor da vontade de Deus e que esta há de ser compreendida apenas através do discernimento”, precisou.
O Papa observou que há padres com “vida de solteirão”, por se fecharem à relação com outros membros do clero, pedindo que cada o bispo seja um “pai”, conhecendo a realidade da sua comunidade.
“Isto requer necessariamente que os sacerdotes rezem pelos bispos e saibam exprimir, com respeito e sinceridade, o seu parecer. Requer, igualmente dos bispos, humildade, capacidade de escuta, de autocrítica e de se deixar ajudar. Se defendermos esta ligação, avançaremos com segurança no nosso caminho”, acrescentou.
Além da obediência, Francisco destacou a centralidade da “fraternidade”, sublinhando que esta “não pode ser uma imposição moral, externa à pessoa”.
“O amor fraterno, se não pretendermos açucará-lo, acomodá-lo, diminuí-lo, é a grande profecia que somos chamados a viver nesta sociedade do descarte”, sustentou.
O simpósio promovido pelo cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, tem organização do Centro de Investigação em Antropologia e Vocações, organismo independente da Santa Sé.O Papa falou numa “síndrome de Caim”, de quem rejeita o amor e acaba por viver como um errante, “sem nunca se sentir em casa, e por isso mesmo está mais exposto ao mal, a fazer-se mal e a fazer o mal”.
Entre os temas em debate estão a questão das “mulheres e ministérios” e o “celibato, carisma, espiritualidade”.
Os trabalhos da manhã de sábado, dia final do evento, vão ser presididos pelo cardeal José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário da Santa Sé.
(Com Ecclesia)