O Papa alertou hoje, no Vaticano, para o risco de transformar a vida espiritual numa relação “comercial” com Deus.
“Jesus é duro, porque não aceita que o templo-mercado substitua o templo-casa, não aceita que o relacionamento com Deus seja distante e comercial em vez de próximo e confiante, que os bancos de vendas tomem o lugar da mesa da família, que os preços tomem o lugar dos abraços e as moedas o lugar das carícias”, disse, desde a janela do apartamento pontifício.
Após vários dias marcados por limitações nos compromissos públicos, devido a problemas respiratórios, Francisco surgiu sozinho perante os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro e leu a reflexão que preparou, inspirada na passagem do Evangelho lida nas celebrações do III Domingo da Quaresma.
O texto, do Evangelho de São João, mostra “uma cena dura”, em que Jesus “expulsa os vendilhões do templo”.
Segundo Papa, esta atitude visa a rejeição da ideia de “comprar, pagar, consumir, e depois cada um para a sua casa”, em relação a Deus.
“Dessa forma, cria-se uma barreira entre Deus e o homem, entre irmão e irmão, ao passo que Cristo veio para trazer comunhão, trazer misericórdia, isto é, perdão, a trazer proximidade”, observou.
“No templo, entendido como casa, acontece o contrário: a pessoa vai ao encontro do Senhor, para estar unido a Ele e aos irmãos, para partilhar alegrias e tristezas”, acrescentou.
O Papa convidou todos os que se preparam para a celebrar a Páscoa a construir “mais casa e menos mercado”.
“No mercado, joga-se com o preço, em casa não se calcula; no mercado, busca-se o próprio interesse, em casa, dá-se gratuitamente”.
Francisco recomendou que este percurso quaresmal seja feito na oração, como filhos que “batem incansavelmente e com confiança à porta do Pai, e não como vendedores avaros e desconfiados”.
“Depois, espalhando a fraternidade. Há necessidade de muita fraternidade. Pensemos no silêncio constrangedor, isolador, às vezes até hostil, que encontramos em tantos lugares”, prosseguiu.
O Papa apresentou, ainda, um conjunto de perguntas que “todos devem fazer”.
“Como é minha oração? É um preço a pagar ou é um momento de entrega confiante, em que não olho para o relógio? E como são meus relacionamentos com os outros? Sei como dar sem esperar nada em troca? Sei dar o primeiro passo para quebrar os muros do silêncio e os vazios das distâncias?”, questionou.
Após a recitação do ângelus, Francisco saudou um grupo português, da Universidade Sénior de Vila Pouca de Aguiar, e um grupo de jovens ucranianos que se encontra em Roma.
“Obrigado pelo vosso compromisso em favor de quem mais sofre com a guerra, obrigado”, disse.
O Papa despediu-se com os tradicionais votos de “bom domingo” e “bom almoço”, pedindo orações por si.