O Papa Francisco alertou para o risco de nacionalismos “agressivos” e de sociedades mais fechadas, no pós-pandemia, apelando ao fim dos “muros” entre pessoas e nações.
“Estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira”, escreve, na mensagem para o 107.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.
A celebração, que a Igreja Católica vai assinalar a 26 de setembro, tem como tema ‘Rumo a um nós cada vez maior’.
Francisco refere que este “nós” da humanidade “está dilacerado e dividido, ferido e desfigurado”.
“Isto verifica-se sobretudo nos momentos de maior crise, como agora com a pandemia. Os nacionalismos fechados e agressivos e o individualismo radical desagregam ou dividem o nós, tanto no mundo como dentro da Igreja”, aponta.
O texto, divulgado pelo Vaticano e enviado à Agência ECCLESIA, sublinha que as principais vítimas desta situação são “os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais”.
“A todos os homens e mulheres da terra, apelo a caminharem juntos rumo a um nós cada vez maior, a recomporem a família humana, a fim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído”, disse.
O Papa retoma os alertas deixados na encíclica ‘Fratelli Tutti’, de outubro de 2020, desejando que após a crise provocada pela Covid-19 não se volte a cair “num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta”.
A mensagem para o 107.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado aponta a um horizonte comum para todos, num “mundo cada vez mais inclusivo”, a partir da fé no “projeto criador de Deus”.
“Para alcançar este ideal, devemos todos empenhar-nos por derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro, cientes da profunda interconexão que existe entre nós”, aponta.
Francisco defende uma Igreja “cada vez mais católica”, no sentido de uma maior universalidade, em que todos se reconheçam membros da mesma comunidade.
“A Igreja é chamada a sair pelas estradas das periferias existenciais para cuidar de quem está ferido e procurar quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem proselitismo, mas pronta a ampliar a sua tenda para acolher a todos”, sustenta.
Partindo de um dos temas centrais do seu pontificado, as “periferias existenciais”, o Papa destaca que nestas se encontram “muitos migrantes e refugiados, deslocados e vítimas de tráfico humano, aos quais o Senhor deseja que seja manifestado o seu amor e anunciada a sua salvação”.
“No encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural que daí pode brotar, é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente”, acrescenta.
A mensagem apresenta um ideal cristão, no qual “todos os povos se encontram unidos, em paz e concórdia, celebrando a bondade de Deus e as maravilhas da criação”, capaz de transformar as fronteiras em “lugares privilegiados de encontro”.
O Papa reforça a sua preocupação com a proteção do ambiente, a “casa comum”, com atenção às gerações presentes e futuras.
“Trata-se dum compromisso pessoal e coletivo, que se ocupa de todos os irmãos e irmãs que continuarão a sofrer enquanto procuramos realizar um desenvolvimento mais sustentável, equilibrado e inclusivo”, precisa.
Um trabalho, refere ainda Francisco, que não faz distinção entre “autóctones e estrangeiros, entre residentes e hóspedes”.
“Somos chamados a sonhar juntos. Não devemos ter medo de sonhar e de o fazermos juntos como uma única humanidade, como companheiros da mesma viagem, como filhos e filhas desta mesma terra que é a nossa casa comum, todos irmãs e irmãos”, conclui.
A mensagem para o 107.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado encerra-se com uma proposta de oração do Papa.
(Com Ecclesia)