Mensagem para o 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais sublinha responsabilidade dos jornalistas para desmontar desinformação
O Papa convidou hoje os profissionais dos media a promover uma comunicação “não hostil”, que ajude a contrariar a “retórica belicista” a nível global.
“Há que rejeitar toda a retórica belicista, assim como toda a forma de propaganda que manipula a verdade, deturpando-a com finalidades ideológicas. Em vez disso seja promovida, a todos os níveis, uma comunicação que ajude a criar as condições para se resolverem as controvérsias entre os povos”, escreve Francisco, na sua mensagem para Dia Mundial das Comunicações Sociais 2023, divulgada pelo Vaticano.
O texto alerta para a “psicose bélica” da sociedade contemporânea, pedindo comunicadores “prontos a dialogar, ocupados na promoção dum desarmamento integral”.
“No dramático contexto de conflito global que estamos a viver, urge assegurar uma comunicação não hostil”, acrescenta o Papa.
A mensagem tem como tema “Falar com o coração: testemunhando a verdade no amor”, inspirado numa passagem da carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4,15).
Francisco propõe uma linguagem e cultura de paz, para que a comunicação “não fomente uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem”.
“A humanidade vive uma hora escura temendo uma escalada bélica, que deve ser travada o mais depressa possível, inclusivamente em termos de comunicação. Fica-se apavorado ao ouvir com quanta facilidade se pronunciam palavras que invocam a destruição de povos e territórios; palavras que, infelizmente, se convertem muitas vezes em ações bélicas”.
O Papa sublinha que os agente de comunicação têm um particular “sentido de responsabilidade”, recomendando que rejeitem “a tentação de usar expressões sensacionalistas e agressivas”.
A mensagem reforça o apelo para se “falar com o coração”, num tempo “propenso à indiferença e à indignação, baseada por vezes até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade”.
Francisco sublinha a importância de comunicar “cordialmente”, perante polarizações e oposições, sustentando que “o falar amável abre uma brecha até nos corações mais endurecidos”.
“Experimentamo-lo na convivência social, onde a gentileza não é questão apenas de ‘etiqueta’, mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações”, prossegue.
Papa defende “escuta sem preconceitos, atenta e disponível”, no caminho sinodal
“Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura. Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs”, escreve Francisco, num texto intitulado “Falar com o coração: Testemunhando a verdade no amor”.
O tema escolhido para o 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais está em ligação ao de 2022, “Escutar com o ouvido do coração”, e insere-se no processo sinodal 2021-2024.
“Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milénio”, assume o Papa.
Francisco acrescenta que esta comunicação tem de colocar no seu centro “centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado” e esteja “mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial”.
“Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor”, prossegue.
Não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incómoda, mas de o fazer sem amor, sem coração. Com efeito o programa do cristão – como escreveu Bento XVI – é ‘um coração que vê’. Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido”.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes – 21 de maio, em 2023.
A mensagem para a celebração é tradicionalmente publicada a 24 de janeiro, dia da memória litúrgica de São Francisco de Sales (1567-1622), padroeiro dos jornalistas.
O Papa apresenta o bispo e doutor da Igreja – a quem dedicou a 28 de dezembro de 2022 a Carta Apostólica Totum amoris est, nos 400 anos da sua morte – como “um dos exemplos mais luminosos e, ainda hoje, fascinantes deste falar com o coração”.
“Para ele, a comunicação nunca deveria reduzir-se a um artifício, a uma estratégia de marketing – diríamos nós hoje –, mas era o reflexo do íntimo, a superfície visível dum núcleo de amor invisível aos olhos”, escreve.
Em 2023 celebra-se o centenário da proclamação de São Francisco de Sales como padroeiro dos jornalistas católicos, feita por Pio XI com a Encíclica ‘Rerum omnium perturbationem’.
“Mente brilhante, escritor fecundo, teólogo de grande profundidade, Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”, escreve Francisco.
O Papa cita o doutor da Igreja e “santo da ternura” para afirmar: “Somos aquilo que comunicamos”.
“Uma lição contracorrente hoje, num tempo em que, como experimentamos particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo nos veja, não por aquilo que somos, mas como desejaríamos ser”, precisa.
(Com Ecclesia)