Papa alerta para «interesses de bastidores» dos atuais conflitos

Francisco avisou para a terceira guerra mundial combatida «por pedaços» com crimes, massacres, destruições.

O Papa Francisco alertou para os “interesses de bastidores” e que “a guerra transtorna tudo, incluindo a ligação entre irmãos”, hoje, na visita ao maior cemitério militar de Itália numa viagem que evocou a I Guerra Mundial.

 

“Enquanto Deus cuida da sua criação e nós somos chamados a colaborar na sua obra, a guerra destrói até mesmo o que Deus criou de mais belo: o ser humano”, revelou Francisco hoje no Santuário militar de Redipuglia, em Gorizia, no norte da Itália.

 

Esta viagem para além de assinalar o centenário do início da I Guerra Mundial também recordou “todas as vítimas de todas as guerras” porque existe “pranto e tristeza”.

 

Para o Papa atualmente estas situações só são possíveis porque “nos bastidores, existem interesses, planos geopolíticos, avidez de dinheiro e poder” e também “a indústria das armas, que parece ser tão importante”.

 

“Os negociantes da guerra talvez ganhem muito mas o seu coração corrupto perdeu a capacidade de chorar, frisou Francisco.

 

Na homilia, disse que a guerra “não respeita ninguém: idosos; crianças; mães; pais” e “transtorna tudo, incluindo a ligação entre irmãos” mas a resposta de cada um não pode ser a mesma que Caim: “A mim, que me importa? Sou, porventura, guarda do meu irmão?” (Gn 4, 9).

 

“A guerra é uma loucura, propõe a destruição como plano de desenvolvimento”, acrescentou e denunciou que “a ganância, a intolerância, a ambição do poder” são motivos que originam a opção bélica.

 

Segundo Francisco, estes motivos são normalmente justificados por uma “ideologia” precedida pela “paixão, o impulso desordenado”.

 

O Papa que viajou “como peregrino” ao chamado Santuário militar de Redipuglia, próximo da fronteira de Itália com a Eslovénia, observou que todas as pessoas, cujos restos repousam naquele cemitério, “tinham os seus projetos e sonhos mas as suas vidas foram ceifadas”.

 

O cemitério austro-húngaro de Fogliano di Redipuglia foi inaugurado em 1938 para servir de última morada a 100 mil italianos que tombaram no decurso da Primeira Grande Guerra.

 

“A humanidade disse: ‘A mim, que me importa?’ e mesmo hoje, depois da segunda guerra mundial, talvez se possa falar de uma terceira guerra combatida «por pedaços» com crimes, massacres, destruições”, alertou perante cerca de dez mil fiéis, números divulgados pela Rádio Vaticano.

 

Esta atitude “é, exatamente, o contrário daquilo que Jesus pede no Evangelho” lido na Eucaristia, revela Francisco que disse que quem responde como Caim – a mim, que me importa? – “fica fora da alegria do Senhor”.

 

Francisco entregou aos bispos e responsáveis pela pastoral militar uma lâmpada da paz, proveniente do Convento de Assis, om a inscrição atribuída a São Francisco: “Onde houver trevas, que eu leve a luz”, que vai ser acesa nas respetivas dioceses, no decorrer das cerimónias que evocam a I Guerra Mundial.

 

O óleo da lâmpada, oferecido pela Associação Livre de D. Luigi Ciotti, foi extraído das oliveiras confiscadas às máfias da Sicília e da Puglia, no sul da Itália, administradas por cooperativas que aderiram ao Projeto ‘Terra Livre’, adiantou a emissora católica.

 

Esta visita do Papa que foi anunciada a 6 de junho na Praça de São Pedro teve como propósito assinalar o centenário do início da I Guerra Mundial (1914-1918), que causou a morte a pelo menos nove milhões de pessoas, entre soldados e civis.

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