O Papa disse hoje em Budapeste que os cristãos devem rejeitar os falsos “messias” e seguir o exemplo de Jesus, rejeitando a violência e o uso da força.
“Que grande distância existe entre Aquele que reina silenciosamente na cruz e o falso deus que gostaríamos de ver reinar pela força e reduzir ao silêncio os nossos inimigos! Como é diferente Cristo, que se nos propõe só com amor, comparado com os messias poderosos e vencedores, lisonjeados pelo mundo”, referiu, na Missa conclusiva do 52.º Congresso Eucarístico Internacional (CEI), que decorreu na capital húngara.
A intervenção sublinhou o risco de anunciar um “falso messianismo” e destacou que a diferença não está entre quem é religioso e quem não o é, mas “entre o Deus verdadeiro e o deus que é o próprio eu”.
“A lógica de Deus, que é a do amor humilde; o caminho de Deus evita qualquer imposição, ostentação e triunfalismo, visa sempre o bem dos outros, indo até ao sacrifício de si mesmo. Do outro, temos o ‘pensar segundo os homens’: é a lógica do mundo, presa às honras e privilégios, tendente ao prestígio e ao sucesso”, advertiu o pontífice.
A celebração reuniu milhares de pessoas na Praça dos Heróis, que Francisco percorreu em papamóvel.
O Papa desafiou os presentes a passar “da admiração por Jesus à imitação de Jesus”, com uma “resposta pessoal, de vida”.
“Jesus sacode-nos, não se contenta com declarações de fé, pede-nos que purifiquemos a nossa religiosidade diante da sua cruz, diante da Eucaristia”, sublinhou.
A 52ª edição do CEI teve como tema “Todas as minhas fontes estão em Ti. A Eucaristia: Fonte da nossa vida e da nossa missão cristã”, contando com delegações de vários países, incluindo uma comitiva portuguesa de 26 pessoas.
“Diante de nós está a Eucaristia, para nos recordar quem é Deus; não o faz com palavras, mas de modo concreto, mostrando-nos Deus como Pão partido, como Amor crucificado e doado”, declarou Francisco.
O Papa convidou os católicos a recuperar a prática da adoração diante da Eucaristia, realçando que “a Cruz nunca está na moda”.
“Deixemos que Jesus, Pão vivo, cure os nossos fechamentos e nos abra à partilha, que nos cure da rigidez e de nos fecharmos em nós mesmos, nos livre da escravidão paralisante da defesa da nossa imagem e nos inspire a segui-lo para onde nos quer conduzir”.
A homilia destacou a necessidade de superar uma fé que vive de “ritos e repetições”, desejando que este Congresso Eucarístico seja “um ponto de partida”.
Esta é a segunda vez que a Hungria recebe o CEI, que decorreu em Budapeste também no ano de 1938; a cidade francesa de Lille acolheu, em 1881, o primeiro Congresso Eucarístico, intitulado “A Eucaristia muda o mundo”.
Encontro com líderes católicos da Hungria
O Papa encontrou-se hoje com os bispos da Hungria, no Museu de Belas Artes de Budapeste, pedindo respeito pelas diferenças e uma atitude de abertura nas comunidades católicas.
“Diante das diferenças culturais, étnicas, políticas e religiosas, podemos ter duas atitudes: fechar-nos em uma defesa rígida da nossa chamada identidade ou abrir-nos ao encontro com o outro e cultivar juntos o sonho de uma sociedade fraterna”, referiu, no discurso que proferiu durante a reunião, à porta fechada, posteriormente divulgado pelo Vaticano.
Francisco defendeu uma Igreja que “construa novas pontes de diálogo”.
“Como bispos, peço-lhes que mostrem sempre, junto com os sacerdotes e colaboradores pastorais, o verdadeiro rosto da Igreja: ela é mãe. Ela é mãe! Um rosto acolhedor para todos, também para os que vêm de fora, um rosto fraterno, aberto ao diálogo”, acrescentou.
O Papa considerou que os bispos devem ser “testemunhas de fraternidade” num país que conta, cada vez mais, com um “ambiente multicultural”.
“Essa realidade é nova e, pelo menos no princípio, é assustadora. A diversidade assusta sempre um pouco porque compromete a segurança adquirida e faz com que a estabilidade alcançada”, advertiu.
“A Hungria precisa de um anúncio renovado do Evangelho, de uma nova fraternidade social e religiosa, de uma esperança a ser construída dia a dia para olhar para o futuro com alegria. Vós sois os pastores protagonistas deste processo histórico, desta bela aventura”.
Francisco começou por homenagear a história da Igreja na Hungria, “marcada pela fé inabalável, pelas perseguições e pelo sangue dos mártires”.
“Olhando para aquela história, história passada, feita de martírio e de sangue, podemos partir para o futuro com o mesmo desejo dos mártires: viver a caridade e testemunhar o Evangelho”, apontou.
O Papa deixou uma nota pessoal, para recordar as religiosas húngaras que fundaram o Colégio “Maria Ward” na cidade de Plátanos, perto da capital da Argentina, com quem se cruzou enquanto arcebispo de Buenos Aires.
“Presto homenagem aos numerosos homens e mulheres que se tiveram de exilar e também àqueles que deram a vida pela sua pátria e pela fé”, acrescentou.
O encontro começou com a saudação de boas-vindas do presidente da Conferência Episcopal, D. András Veres, bispo de Gyor.
( Com Ecclesia)