«São tantos os turistas hoje na Igreja, que estão sempre de passagem mas nunca entram», criticou hoje Francisco durante a audiência pública com os peregrinos
O Papa destacou hoje no Vaticano a “co-responsabilidade” e a “proximidade ao outro” como os maiores tesouros do cristianismo, e criticou “as hipocrisias que atualmente destroem a Igreja”.
Na audiência pública desta quarta-feira com os peregrinos, que decorreu na Sala Paulo VI, Francisco voltou a sublinhar a importância do papel de todos quantos hoje dedicam a sua vida, de forma “voluntária”, a favor do bem-comum e dos mais necessitados.
“Longe de ser uma atividade de assistência social, a solidariedade cristã é a expressão irrenunciável da natureza da Igreja, mãe amorosa de todos, especialmente dos mais pobres”, referiu o Papa argentino.
Durante o encontro com os peregrinos, Francisco enalteceu esta solidariedade social como uma atitude que vai ao encontro do significado mais profundo do ser cristão, onde a “indiferença” tem de ser uma “palavra proibida” e “as ações falam mais alto do que as palavras”
“Quando alguém aponta para um problema e se diz a mim não me importa… um cristão não pode dizer isto. Não podemos ser indiferentes, é isto que significa ser cristão”, frisou o Papa.
Francisco alertou depois para a ligeireza espiritual e de fé que marca hoje a vida de muitos cristãos, que passam pela sociedade, pelas comunidades, e pela Igreja Católica, mas nunca se comprometerem verdadeiramente com nada.
“São tantos os turistas hoje na Igreja, que estão sempre de passagem, mas nunca entram. No meio deste turismo espiritual eles acreditam que são cristãos, mas não passam de turistas de catacumba”, sustentou. Para o Papa, este cenário de afastamento e dormência que marca muitas pessoas “que se dizem cristãs” deve despertar as estruturas católicas para “as hipocrisias que atualmente destroem a Igreja”.
“A hipocrisia é a pior inimiga da comunidade cristã, deste amor cristão, em que se faz de conta de procurar o bem, mas procura-se apenas o próprio interesse”, afirmou Francisco, numa reflexão que tocou também a relação entre as comunidades e os seus pastores, padres e bispos.“Uma vida apontada apenas ao proveito próprio e ao retirar de vantagem das situações, à custa dos outros, leva inevitavelmente à morte interior. E quantas pessoas se dizem próximas da Igreja, amigas dos padres e dos bispos, e só buscam apenas os seus interesses?”, questionou. A audiência pública desta quarta-feira foi marcada pela presença, junto ao palanque do Papa, de uma adolescente portadora de deficiência, que muitas vezes passou em frente às câmaras e no final esteve inclusivamente algum tempo à frente de Francisco.
“Todos nós vimos esta rapariga tão bonita e que, pobrezinha, é vítima de uma doença e não sabe o que faz. Eu gostava de perguntar uma coisa, mas cada um responda no seu coração. Já rezaram por ela, para que o Senhor a proteja e defenda? Já rezaram pelos seus pais e pela sua família? Sempre que vemos uma pessoa em sofrimento devemos rezar… que esta situação nos ajude sempre a fazer esta pergunta”, apelou.
(Com Ecclesia e Vatican News)