O Papa admitiu, numa entrevista divulgada hoje, que a “disciplina” do celibato pode ser revista, admitindo a ordenação sacerdotal de homens casados, como acontece em comunidades católicos de rito oriental.
“Não há nenhuma contradição na possibilidade de um sacerdote casar. O celibato na Igreja ocidental é uma prescrição temporal”, indica, em conversa com o responsável pelo portal ‘Infobae’, da Argentina.
Precisando que “o celibato é uma disciplina”, Francisco responde que “sim” à pergunta sobre se tal disciplina poderia ser revista.
A conversa retoma as várias intervenções do Papa sobre o acolhimento das pessoas homossexuais, sublinhando que ninguém está excluído.
“A grande resposta foi dada por Jesus: todos. Todos, todo dentro”, assinala, convidando a centrar o debate no “essencial do Evangelho”.
O tema é abordando noutra entrevista, à rádio e televisão suíça (RSI), que será transmitida no domingo.
“Não devemos esquecer-nos disto: a Igreja não é uma casa para alguns, não é seletiva. O santo povo fiel de Deus é este: todos”, declara.
Francisco admite a sua “preferência pelos descartados”, mas recorda que “Jesus não manda embora os ricos”.
“A realidade vê-se melhor dos extremos do que do centro. De longe, entende-se a universalidade. É um princípio social, filosófico e político”, acrescenta.
As duas entrevistas abordam a guerra “mundial”, com epicentro na Ucrânia, com críticas à “indústria das armas”.
“Putin sabe que estou à disposição. Mas há interesses imperiais, não apenas do império russo, mas de outros impérios”, denuncia o Papa à RSI.
Na entrevista ao ‘Infobae’, Francisco admite reservas quanto a uma solução rápida para o conflito na Ucrânia.
“Modi (primeiro-ministro da Índia, ndr) pode fazer alguma coisa, não sei. Eu sei que existem vários governantes que estão a mover-se, há um grupo israelita que está a avançar bem. Mas não sabemos aonde isso vai levar”, declara.
O Papa evoca Bento XVI, falecido no último dia de 2022, como “um homem de Deus”, e assume que a “falta de clareza”, para avaliar as situações, o poderia levar a renunciar ao pontificado, como fez o seu antecessor.
Na entrevista ao portal argentino, Francisco assume o desejo de visitar o seu país natal e deixa críticas ao regime da Nicarágua, referindo-se ao bispo de Matagalpa, D. Rolando Álvarez, condenado a 26 anos de prisão.
O Papa mostra-se ainda confiante na possibilidade de uma mudança na Venezuela, considerando que “as circunstâncias históricas obrigarão a mudar a forma de diálogo” do governo de Nicolás Maduro.
(Com Ecclesia)