Professora florentina aposentada é a convidada do Palavras que abrem caminho
Meio século de vida vivida, Gabriela Silva redescobriu Deus.
“Afinal tenho um amigo e não sabia, tenho alguém que me ama e que eu não soube corresponder, estive à espera tantos anos de um Deus que não conhecia e, de repente, tudo mudou na minha vida. Este encontro com Deus mudou a forma como vejo o outro e, sobretudo, como me vejo a mim própria e isso tem de ter consequências na relação com os outros” refere a professora que passou uma vida a procurar ser solidária com os outros, ajudando novos e velhos, intervindo na sociedade de forma ativa e consciente, procurando nunca desistir.
Porventura, foi necessário confrontar-se com uma doença para partir à descoberta, juntamente com um amigo, que a introduziu na meditação cristã.
“A pandemia pode focar-nos; aliás já está a focar-nos pois vejo muita gente empenhada em fazer-se próxima e ajudar o outro, muita gente que já percebeu que ter muitas coisas é carregar um jugo muito pesado” refere com Palavras que abrem caminho.
“Eu era uma pessoa solidária, que gostava de ajudar os outros, mas era leve. Hoje em dia tenho um sentido de responsabilidade maior, há muita gente que precisa de ser ajudada e há muita gente disponível para ajudar. A pandemia abriu muitas janelas de solidariedade” embora também persista o oposto, “gente mais egoísta, mais fechada, na sua avidez de querer sempre mais”, refere ao sublinhar que nestas atitudes opostas estão a política e a religião.
“Infelizmente, temos muitos políticos que não têm como objetivo melhorar a vida dos outros; se os políticos todos quisessem fazer o bem e quisessem mudar o mundo conseguiam fazê-lo. Mas, não querem. Hoje, na política, consome-se o tempo em guerras partidárias sem que os seus protagonistas consigam dialogar ou entender-se com respeito”, afirma
“A política tem de mudar radicalmente” esclarece sem esquecer também o papel da Igreja.
“A Igreja tem sair de entre portas e ir para a rua; a igreja de lugares marcados de máscaras, transformou-se num lugar onde as pessoas já não querem ir. Os sacerdotes ( e todos nós!) têm de sair , fazer o que Jesus fez… Ir ao encontro”.
“Esta é a única atitude que vale a pena, porque toda a gente precisa ser amada. A certeza de nos sentirmos amados é simplesmas é preciso dar um passo em frente e sermos capazes de integrar o amor de Deus nas nossas vidas. Como é que isso se faz? Bom sempre lhe digo que olho para cada pessoa pensando que ela é tão amada por Deus como eu, e isso deve tornar-me disponível para ela porque é minha irmã”, refere ainda Gabriela Silva.
Neste Palavras que abrem caminho, Gabriela Silva fala da humanidade em que nos tornámos, dos Açores e da forma como devemos ser solidários, do caminho de paz que temos de construir em conjunto, cada um “dando o que tem de melhor”. “Pode até ser pouco mas é aquilo que Deus nos pede. Ele nunca nos exigiu muito. Em bom rigor, nunca nos exigiu nada”, conclui.