Há um ano que luta contra a covid-19, e sobretudo as consequências de uma doença, que a apanhou entre uma visita à mãe, de 94 anos, que acabou por contagiar, e o festival literário “Correntes da Escrita” em que participou LuÍs Sepúlveda, que acabaria por falecer também vítima do vírus que colocou o mundo em situação de pandemia.
“Fiquei triste mas confiei. Quando soube que tinha infetado a minha mãe, aí as coisas foram complicadas e, se porventura a minha tivesse morrido, não sei como me sentiria. Mas sim foi um tempo de muita confiança em Deus, de muita oração” refere ao sublinhar um desejo: de que esta doença nos faça refletir sobre prioridades, sobretudo no que toca às respostas para os mais idosos.
“Vivemos uma espécie de novo holocausto; agora são os idosos que estão a ser dizimados a torto e direto”, lamenta.
“Nós engavetámos os nossos velhos em asilos, tiramo-los do seu ambiente e metemo-los em casas onde sofrem uma eutanásia lenta e legal; saíram da sua casa e sabemos bem que um infectado num ambiente destes é um rastilho” constata destacando que “já morreu quem tinha de morrer e, pelo menos esta doença tem de nos fazer refletir sobre os mais velhos”
“As famílias têm de ter as condições para manter os velhos em casa; o contacto entre as gerações mais novas e mais velhas é importante tem de ser repescado e reinstituído”, avança.
“Não sei qual é a solução mas temos de pensar nisto muito a sério: é importante o abraço e que tenhamos consciência de que esta proximidade tem que existir”, reflete lembrando que “há muita gente sozinha em casa e nós temos de nos organizar em equipas de visita, de acompanhamento de pessoas porque muitos deles vivem sozinhos, sem os filhos que estão emigrados, sem qualquer apoio”.
Vila-condense de nascimento mas mariense por adopção, foi catequista e é desde sempre sócia de duas associações de intervenção social na ilha de Santa Maria: a Fraterna Ajuda Cristã e a Salvaterra.
“Não há formulas mágicas; há o empenhamento pessoal e comunitário, mas as entidades públicas têm obrigações , porque gerem os nossos impostos”, salienta.
“As soluções têm de ser políticas; não são as associações que têm de resolver as grandes questões” refere lembrando que a Igreja tem feito muita coisa mas “as pessoas precisam de empregos e não podem viver de esmola”.
“Só o emprego dá dignidade; a esmola não lhes dá dignidade. A esmola é isso mesmo; temos de ser capazes de equacionar soluções que devolvam a dignidade às pessoas”, esclarece.
Nestas Palavras que abrem caminho, Ana Loura fala ainda do papel da Igreja na sociedade contemporânea elegendo a catequese como uma das prioridades.
“Os nossos jovens estão a crescer em estatura porque a natureza assim o dita; crescem em sabedoria porque vão à escola mas não crescem todos em graça” porque “há um laxismo e permissividade da Igreja e dos pais em relação à vontade dos jovens”, refere.
“Temos de combater a preguiça”, esclarece destacando que é preciso “encontrar estratégias” que mobilizem e encorajem jovens e famílias a regressar à Igreja.
A catequese de adultos “é um caminho”.
O Palavras que abrem caminho desta quinta feira pode ser ouvido aqui.