Pais devem «conhecer e experimentar» a fé com os filhos

Reflexão nas Jornadas Nacionais aponta para renovação pastoral que vá ao encontro das famílias de hoje, «não das que temos como modelos»

D.Manuel Pelino afirmou no inicio das jornadas nacionais de catequese, que decorrem em Fátima até hoje, que a educação “deve abranger todas as dimensões da pessoa humana” e que os pais deve ser os responsáveis por “conhecer e experimentar Jesus” com os seus filhos.

“A grande preocupação dos catequistas é conseguir encontrar respostas válidas que permitam aos pais um redescobrir a fé e serem, eles próprios, portadores desta alegria de conhecer e experimentar Jesus aos seus filhos”, afirmou o prelado, Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF).

O encontro tem por objetivo refletir sobre a «Família», partindo da Exortação pós-sinodal «A Alegria do Amor», escrita pelo Papa Francisco.

14 catequistas das ilhas Terceira, São Miguel e Faial, da diocese de Angra participam nas Jornadas Nacionais de Catequistas acompanhando o novo responsável pelo Serviço Diocesano de Apoio à Evangelização e Catequese.

“A forma como estas jornadas têm decorrido é muito interessante pois tem colocado o enfoque na família que é a igreja doméstica e é aí que começa tudo”, referiu ao Sítio Igreja Açores o Cónego Ângelo Valadão.

Segundo o responsável a educação “deve ter em consideração não apenas a questão intelectual mas abranger todas as dimensões da pessoa humana”, e nesse sentido, estas jornadas “têm sido um contributo importante”.

“Ligar família e catequese”, expressa “nas respostas dos catequistas das dioceses é um grande desafio que nós também queremos abraçar na nossa diocese”, referiu o sacerdote que tomou posse do serviço apenas em setembro.

“Estamos a tentar criar três centros de formação catequética: um em São Miguel que será liderado pelo Pe Hélio Soares; outro no Faial, com o Pe Bruno Rodrigues e outro na Terceira que já vai arrancar com uma primeira formação inicial de catequistas proximamente”, referiu ainda.

Destacou a conferência do bispo de Leiria Fátima, D. António Marto, sobre a família na qual apresentou Nossa Senhora como Mãe, Discípula e Mestra.

O bispo de Leiria Fátima, D. António Marto, alertou para o perigo da “escolarização da catequese” afirmando ser necessário “distinguir” a etapa própria das crianças da dos adolescentes.

“Há o grande perigo da escolarização da catequese: de olharmos para a catequese da mesma forma como se olha para escola, onde se vai aprender e onde se entregam os filhos ao cuidado dos professores, neste caso ao cuidado dos catequistas”, alertou o responsável.

Segundo o prelado é necessário “distinguir a etapa da catequese das crianças e dos adolescentes”, que, afirma, “requer outra pedagogia e método sobretudo para não ser uma doutrinação e escolarização”.

O bispo de Leiria – Fátima destaca o trabalho que tem sido feito para “auscultar as bases, em especial junto das crianças e dos adolescentes” de forma a tornar a catequese “mais vivencial e menos doutrinal” e com uma pedagogia adequada “para o mundo novo” da era digital e virtual.

Mas, sublinha D. António Marto, “é necessário um maior envolvimento das famílias”.

“A catequese não é mera doutrina, mas leva à fé, com um estilo de vida. Não se aprende teoricamente, mas em osmose, em família e na comunidade cristã”.

O responsável apontou ainda Maria como “pedagoga” que ensina a uma “vivência de fé em família”.

“Temos de conhecer bem o lugar e a missão de Maria, na vida de Jesus e da Igreja”, saudou, sublinhando a importância de estender a todas as diocese do país a celebração do centenário das aparições em Fátima como forma de “um maior conhecimento de Maria dentro da história da salvação”.

Além das conferências tem havido trabalho de grupo divididos entre a catequese familiar, a catequese paroquial e a catequese dos pais.

Os catequistas tiveram oportunidade de refletir sobre a necessidade de mudança entre um “cristianismo de herança” e um “cristianismo de propostas”, conduzida pelo professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), José Borges de Pinho.

Para o docente é fundamental entender o “decisivo lugar da família enquanto lugar fundamental da transmissão da fé e da construção da Igreja” através da “busca de novos paradigmas”.

“Se não tivermos em conta todas as transformações da família no ocidente, se não olharmos para o processo de secularização de maneira profunda, se não nos detivermos numa cada vez maior pluralidade de opiniões e valores, não perceberemos a verdade de hoje e, deste modo caiem no vazio todas as propostas que possamos fazer”.

O professor afirmou ser mais fácil “propor religião do que caminhos firmes de descoberta de Jesus e da experiência da fé” e sustentou que a atitude da Igreja, e dos agentes de pastoral, deve ser a de “acolher com o coração agradecido e acolher os cinco pães e dois peixes” que as “famílias de hoje apresentam” e não se contentar “com discursos morais impregnados de doutrina mas longe da realidade de hoje”.

Assim, destacou o docente da UCP,  torna-se “urgente uma renovação eclesial e pastoral de modo a dotar as nossas comunidades de serviços que priorizem, na prática, as famílias, não apenas aquelas que temos como modelos, mas aquelas que mais necessitam de apoio e de propostas concretas de fé e caminho cristão”, apontou.

As Jornadas Nacionais de Catequistas terminam em Fátima este domingo e contam com a participação de mais de 450 catequistas de todas as dioceses do país.

 

(Com Ecclesia)

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