Pároco satisfeito com esta decisão do governo, no passado dia 9 de janeiro
O Governo Regional dos Açores acaba de classificar como Bem Móvel de Interesse Público o painel “Lamentação sobre Cristo Morto”, propriedade da Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo, em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel.
A autoria deste painel é atribuída ao pintor português Diogo de Contreiras, executado na segunda metade do século XVI.
Em 2008, o painel encontrava-se muito danificado e sem visibilidade na capela colateral do lado da epístola.
Entre novembro de 2009 e dezembro de 2013, foi alvo de extenso estudo histórico, técnico e científico e de profunda intervenção de conservação e restauro, realizada na Divisão do Património Móvel, Imaterial e Arqueológico da Direção Regional da Cultura.
O estudo efetuado pelo Professor Doutor Vítor Serrão, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, permitiu atribuir a autoria do painel a Diogo de Contreiras, avaliou a sua importância cultural e revelou tratar-se do único exemplar que resta do retábulo-mor mandado executar a Lisboa na sequência da reconstrução da Igreja Paroquial de Vila Franca do Campo, após o trágico terramoto de 22 de outubro de 1522.
Com este ato de classificação do painel “Lamentação sobre Cristo Morto” como Bem Móvel de Interesse Público, o Governo Regional “pretende salvaguardar uma das obras-primas da pintura antiga nos Açores e uma das excelentes peças do Maneirismo em Portugal” realça o executivo.
Obra ímpar do maneirismo português, pintada por Diogo Contreiras, foi recolocado no templo, em nicho de pedra com arco em ogiva, na nave do lado da epístola.
“É uma enorme alegria porque se trata de um verdadeiro milagre, no sentido de termos conseguido recuperar uma pintura com mais de quinhentos anos, com um inestimável valor histórico” disse ao Sítio Igreja Açores o Pároco da Matriz de Vila Franca, Pe José Borges, na altura.
“Além disso esta pintura, porque nos transporta para a vida de Jesus – Cristo descido da cruz nos braços da mãe-, é uma excelente catequese viva para o momento que vivemos, que é a Quaresma”, acrescenta ainda o sacerdote que se empenhou pessoal e particularmente no acompanhamento deste restauro.
O painel tem uma dimensão “considerável” e um valor artístico “inestimável”, mas durante muito tempo esteve votado “ao abandono”, colocado na Capela direita do Cruzeiro da Matriz de Vila Franca do Campo, num espaço pouco iluminado.
Luís Bernardo Leite de Ataíde, historiador e diretor de artes do Museu Carlos Machado, em Ponta delgada, foi o primeiro a dar nota da importância desta obra de arte quer no âmbito do património artístico nacional quer no que respeita à conservação do património regional.
A pintura tem como imagem central Cristo amparado pela Mãe, tendo Maria Madalena ajoelhada à esquerda, mais duas Mulheres e três figuras masculinas (São João, José de Arimateia e Nicodemos) à direita, enquanto em segundo plano foram representadas as cruzes do Calvário, alguns soldados, assim como um conjunto arquitetónico simbolizando Jerusalém, sobre um céu carregado.
O autor da obra, Diogo Contreiras, viveu no século XVI, entre 1521 a 1567, e é considerado uma das mais criativas personalidades da pintura quinhentista portuguesa e um dos iniciadores do Maneirismo em Portugal.
Senhor de um gosto muito personalizado, cedo se libertou das receitas da geração precedente e soube evoluir. Além da Lamentação sobre Cristo Morto, pintou também a excecional ‘Pregação de São João Batista’ exposta no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.