O jovem sacerdote açoriano Pedro Lima acumulará a pastoral operária com a paróquia de Santa Luzia de Angra e Posto Santo
A participação de jovens sacerdotes açorianos na pastoral operária não é propriamente uma novidade mas volta a repetir-se desta vez com o padre Pedro Lima, sacerdote faialense, formado no Seminário Episcopal de Angra e licenciado em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana.
Atualmente a desempenhar o papel de pároco em Santa luzia, em Angra do Heroísmo, o sacerdote diz que este novo serviço é “um desafio” e para ele, enquanto padre, será uma oportunidade “perceber o carisma deste movimento, estar próximo e corresponder às necessidades de humanização e dignificação do mundo do trabalho” afirmou em declarações ao Sítio Igreja Açores.
“140 mil jovens portugueses não estudam, nem trabalham; representam 8,9% da população entre os 15 e os 29 anos” revela o sacerdote citando a última edição do boletim Voz do trabalho que se publica há 74 anos, lembrando que estes problemas “surgem muito cedo” e o facto de ser jovem também poderá ajudar a “compreender e a agir” junto destas faixas etárias.
O padre Pedro Lima irá trabalhar com a LOC/MTC (Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos) e JOC (Juventude Operária Católica) , ambas com uma dimensão internacional, pois são membros do MMTC – Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos, com sede em Bruxelas e do Movimento Trabalhadores Cristãos Europeus, MTCE.
“Temos de estar alerta para humanizar o trabalho e, por outro lado, para promover a justiça social. Este é o papel da Igreja: ser voz ativa e profética” também no mundo laboral, refere destacando que o trabalho que irá fazer “é muito inspirado na ação dos padres do Prado”.
“O Movimento de Trabalhadores Cristãos pedia um assistente; surgiu assim no contexto de fazer uma experiência pastoral diferente, caminhando dentro dos padres do Prado” confessa o sacerdote que irá atuar sobretudo no Norte do país, onde o movimento é mais forte e ativo.
“Este é um trabalho que acontece com leigos porque o movimento é de militância, é um movimento de acção católica onde os leigos têm um papel chave na luta pela humanização e dignificação do trabalho, tendo sempre presente os princípios da Doutrina Social da Igreja, da justiça social”, sublinha.
A LOC/MTC nasce da fusão de dois Movimentos (junho de 1974), a LOC Feminina fundada a 5 de Maio de 1936 e a LOC Masculina fundada a 12 de Dezembro de 1936. Os seus atuais Estatutos foram aprovados pela Conferência Episcopal Portuguesa, em Novembro de 1984, sendo a sua atual designação (LOC/MTC) aprovada pelo X Congresso Nacional de militantes, em 1998 e confirmada pelo Conselho Permanente da Conferência Episcopal no mesmo ano.
“A Igreja está no mundo do trabalho e os trabalhadores são também Igreja” refere ainda.
“Sinto-me como um filho no meio de pessoas que têm a idade dos meus pais e o meu objetivo é aprender e deixar-me apreender pela realidade do trabalho que acreditamos contribui de forma efetiva para a dignificação da pessoa humana”, diz reconhecendo que hoje, as mudanças sociais e o aparecimento dos sindicatos podem ter desvanecido a real participação da Igreja no mundo do trabalho.
“Quando surgiu este movimento em 1936 não havia estruturas sindicais e a Igreja tinha um pouco esse papel. Por isso, não acho que a Igreja tenha perdido lugar nessa missão de defesa do direito dos trabalhadores. O que aconteceu foi um redimensionamento das funções. A Igreja conserva a sua voz profética e hoje, cada vez mais, em questões da ecologia integral, por exemplo”, refere por outro lado.
Este é um movimento especializado da Ação Católica que, pela vivência e pelo seu testemunho da mensagem cristã, no seio dos trabalhadores, se situa na dinâmica da vida operária, participando na caminhada solidária dos trabalhadores que buscam a justiça e a sua promoção coletiva. É um espaço de reflexão que permite aos seus militantes partilhar e aprofundar a sua fé cristã em ligação com os seus compromissos no mundo do trabalho. Nesse espaço aprofunda-se, também, a consciência de ser Igreja, à qual todos os batizados pertencem ontologicamente pelo batismo, lê-se na página on-line do Movimento.
O método original seguido pelos membros do movimento é o da ” Revisão de Vida: Ver – Julgar – Agir”, através do qual os militantes procuram lançar um olhar mais profundo e crítico sobre as realidades do mundo do trabalho para aí descobrir os sinais vivos de Jesus Cristo Ressuscitado e do Reino de Deus em germinação.
Nos Açores existiu sempre um grupo de sacerdotes muito ligado a este movimento e a nível nacional sacerdotes como o Padre Manuel António Pimentel e o padre Emanuel Valadão Vaz deram contributos muito regulares na assistência espiritual do Movimento.