Ouvidores prestam tributo a D. António de Sousa Braga

Responsáveis eclesiásticos elogiam proximidade do Bispo Emérito de Angra

Em 1996 quando chegou à região, S. António era um açoriano totalmente desconhecido do clero açoriano. Nunca foi diocesano e a sua vida de comunidade nunca o tinha aproximado muito à terra natal, onde apenas passava férias com a família.

Hoje, 20 anos depois de ter chegado ao arquipélago é a forma como se fez próximo do clero e dos leigos que mais é sublinhada por todos os seus colaboradores, dos mais chegados aos mais afastados.

“Em 2006 quando ocorreu o 10º aniversário do ministério Episcopal escrevi o artigo de fundo para o Boletim Eclesiástico dos Açores destacando dois pontos : D. António de Sousa Braga com a sua Igreja – Dez anos de caminhada pastoral 1996 – 2006 e D. António como Pai e amigo da Família Diocesana. Nestes quase 20 anos de Bispo nos Açores destaco estes mesmos dois pontos” refere o ouvidor de Ponta Delgada.

“D. António fez uma caminhada com a sua e nossa Igreja num caminho comum que foi o plano pastoral traduzido em programas e orientações pastorais com dois pontos fortes de incrementação: a corresponsabilidade eclesial a partir das bases : desde os Conselhos Pastorais Paroquiais até ao Conselho Pastoral Diocesano e a atenção e vivência da religiosidade popular açoriana” sublinha o Cónego José Medeiros Constância.

“O segundo ponto que destaquei e destaco é este D. António como Pai e amigo de todos. Como Pastor foi mesmo um Pai e Irmão em toda as ocasiões. Apesar de Pai e Amigo nem sempre houve consenso sobre a sua liderança , considerada por alguns não suficientemente vigorosa e decidida. Mas tem sido humilde e paciente no exercício, por vezes, muito doloroso do seu ministério episcopal”, afirma ainda.

“Próximo e Pastor”

As vertentes espiritual e social do seu episcopado são destacadas pelo ouvidor dos Fenais da Vera Cruz.

“D. António esteve sempre presente no momento de dor em que os fiéis passaram”, diz o Pe Carlos Simas lembrando episódios concretos como a tragédia da Ribeira Quente, ou o sismo do Faial em 98 ou ainda o acidente de São Jorge com a queda do avião da Sata.

“O Episcopado de D. António foi caracterizado pela sua presença, esprírito de compaixão e de caridade para com este povo açoriano” salienta o sacerdote reforçando que na vertente espiritual, “o que mais destacou o prelado foi o sentido de profundidade quando classifica as festas do Espírito Santo como um “valor espiritual”, ou seja, um “selo único da tradição religiosa do povo açoriano”.

No presbitério D. António “foi sempre um homem de diálogo, aberto à escuta e às preocupações do seu clero”, recorda ainda o ouvidor.

É também com estas características que é lembrado pelo ouvidor da Povoação.

“Julgo, que por ser açoriano, compreendeu bem a realidade insular e deixa a sua marca na religiosidade popular do nosso povo”, refere o Pe Ricardo Pimentel.

“Recordo-me de, no dia da sua ordenação episcopal (era eu ainda seminarista com 16 aninhos de idade) de manifestar o seu desejo em contribuir para se viver melhor ´O Império do Espírito Santo´”, acrescenta.

O seu lema episcopal “ut sint unum” marca bem aquilo que foi o rumo destes vinte anos: “criar unidade entre todas as ilhas numa Diocese dispersa como a nossa”, refere por seu lado o ouvidor da ilha Graciosa, o Pe Sérgio Mendonça que não deixa de parte o facto do Bispo ter sido um defensor da valorização da religiosidade popular do arquipélago.

“Ele foi um Pastor que frequentemente apelava para que vivêssemos o tempo do “Império do Espírito”, um Bispo romeiro entre os irmãos e “peregrino” dos Santuários Diocesanos”, conclui o sacerdote.

Proximidade e humildade são também características elogiadas pelo ouvidor da ilha Terceira, que apesar de “só em 29012 ter tido um contacto mais próximo” com o prelado, rapidamente percebeu que “manifesta uma preocupação pelos sacerdotes nomeadamente no que diz respeito ao seu sustento para que tenham o necessário para poderem viver com dignidade, mesmo para com alguns que entretanto deixaram de exercer o seu ministério, não esquecendo os mais velhos e doentes”.

“Revela uma grande humanidade, que nem sempre foi compreendida por alguns” frisa o Cónego António Henrique Pereira.

“A sua grande vontade de resolver o problema de todos talvez tenha prejudicado em parte o exercício do seu ministério já que, por ser “bom demais”, alguns se aproveitaram disso” refere ainda sublinhando algum “desanuviamento na forma de se estar na diocese”.

“Um Bispo ao estilo do Papa”

“A misericórdia, o acolhimento, a disponibilidade e a proximidade, o dom de si, o seu temperamento bondoso e acolhedor tornou-o numa pessoa próxima e acessível de todos” destaca por sua vez o ouvidor da Lagoa, seu confrade na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus.

“Foi sempre um de nós, procurando organizar-se para ir ao encontro das pessoas e das suas necessidades, prescindindo do seu motorista, ele guiava o seu modesto carro, ao estilo dos bispos de outros lugares do mundo onde é possível viver sem protocolos”, lembra o Pe Pedro Coutinho.

O sacerdote, que dirige também o Centro Missionário do Coração de Jesus, em Ponta Delgada, que ainda recentemente deu à igreja mais um sacerdote, ordenado em julho do ano passado, recorda a simplicidade do prelado que se manifestou em várias ocasiões desde não ter um secretário pessoal, porque a diocese passou por momentos financeiros difíceis até colaborar nas suas próprias despesas pessoais encarregando-se de as satisfazer sem recorrer aos serviços da Cúria.

“Nisso foi um pastor ao estilo do Papa Francisco” adianta o Pe Pedro Coutinho que não esquece a “relevância” das questões pessoais.

“Aparece sempre uma componente da doutrina social da igreja nas suas mensagens e nos programas pastorais” além de que “abriu a igreja dos Açores ao mundo” trazendo a vasta experiência que tinha de contactos com outros e países e outras culturas. Por outro lado, destaca, foi um grande promotor das vocações.

“Num contexto difícil e ausência de clero e de vocações, os Açores têm um clero dos mais jovens do país e da Europa”, destacou lembrando que se há há palavra que marcou o seu episcopado foi “presença”.

“Enfrentados tempos difíceis de laicização, indiferentismo religioso e desmobilização, a Igreja dos Açores é também das primeiras a nível nacional na prática religiosa. A devoção ao Senhor Santo Cristo afirmou-se como uma forte espiritualidade açoriana e a religiosidade popular da nossa terra tornou-se conhecida e apreciada além-fronteiras. As romarias internacionalizaram-se. O culto do divino Espírito Santo sempre popular e embora com tentativas de instrumentalização pelo poder político, faz parar a vida da região porque continua a ter raízes muito profundas nas nossas almas” revela o sacerdote dizendo que isso se deve “ao contributo generoso de D. António”.

“Uma lição de humanidade”

Para o ouvidor do Faial, Pe Marco Luciano, é precisamente a sua “humanidade”, a imagem de marca do prelado que agora deixa a diocese de Angra.

“Tal como o Bom Pastor que se entrega e que se gasta totalmente pelo rebanho, podemos dizer que o D. António de Sousa Braga foi alguém que nos ensinou a viver a virtude da humildade”, refere o sacerdote.

Protagonizou “um cristianismo de encarnação, que nos convida neste mundo a sermos o rosto da misericórdia e da bondade de Deus. Não olhando aos bens materiais e muitas vezes esquecendo-se de si próprio, esteve sempre com o rebanho nos momentos altos, mas também nos momentos de maior dificuldade e sofrimento”, acrescenta, lembrando o apoio dado aos sacerdotes e ao povo de Deus, das ilhas do Faial do e Pico, na altura do sismo de 98, cuja presença “foi para o seu povo sinal de conforto e esperança”.

Aliás, sem omitir a sua preocupação sobre um processo que ainda está por terminar- a reconstrução de 4 igrejas do Faial (apenas uma está concluída para ser dedicada no dia 3 de abril)- o Pe Marco Luciano não deixa de reconhecer que o prelado foi “uma pedra essencial em toda esta empresa, visto que sempre lutou e esteve ao lado das comunidades para fazer parte de uma solução que aligeirasse este longo e doloroso processo de reconstrução”.

E, acrescenta: “apesar do nosso Presbitério ter vivido momentos de grande comunhão eclesial, como foi a difícil questão financeira da Diocese, a caminhada do Pastor também foi marcada pelo “Domingo de Ramos”! Muitos foram os enganos, os abusos e as incompreensões dos que tornaram difícil e muitas vezes dolorosa a sua caminhada”.

Depois do agradecimento, diz “é tempo de se viver um tempo novo” e, por isso, “que cada tempo seja tempo de Deus”.

Também das Flores chega um “agradecimento pela proximidade” e “disponibilidade para servir” através do ouvidor, Pe Ruben Sousa.

Para o ouvidor das Capelas, a diocese vive hoje “um momento de ternura” que é também “um momento de viragem, mais do que o passar de um testemunho é a transmissão de um legado de vivência, de proximidade e afetividade”.

D.António “marcou a sociedade Açoriana pela sua proximidade e afetividade no trato com todos os açorianos nas nove realidades (ilhas)”, afirma o Pe Horácio Dutra que adianta que o seu episcopado ficou marcado “pela desmistificação da figura do Bispo e pelo incutir o verdadeiro sentido de Diocese, numa realidade tão descontínua como a nossa, e pelo aproximar das paróquias por relação à ouvidoria e consequentemente à Diocese”.

Também o ouvidor do Pico considera que este episcopado foi marcado pela proximidade

“Dentro deste seu carisma de proximidade com o presbitério e os diocesanos, D. António tornou-se um Bispo presente, apesar da dispersão arquipelágica açoriana, circulando por todas as ilhas e suas comunidades, tornando-se querido e amada pelo seu povo” disse ao Sítio Igreja Açores o Pe Marco Martinho, um dos dez sacerdotes ordenados de uma só vez no ano jubilar de 2000.

“Desde o primeiro momento o considerei próximo e amigo dos seus padres” refere sublinhando que a relação entre os dois sempre foi “um diálogo cordial e construtivo” .

 

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