Padre diocesano de Coimbra proferiu a terceira conferência comemorativa do 60º aniversário da elevação do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres
Os santuários são um “sinal vivo” de que todos os que mendigamos na vida temos “um colo para nos cuidar” afirmou esta terça feira o Pe. José da Silva Lima, sacerdote da diocese de Coimbra, que esteve em Ponta Delgada e proferiu a terceira conferência comemorativa do 60º aniversário da elevação do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres a santuário diocesano.
A conferência intitulada “Santuário, arte de cuidar”, organizada pelo Santuário açoriano numa parceria com a paróquia de São José, de Ponta Delgada, e com o Instituto Católico de Cultura, lembrou a importância dos santuários como lugares de “acolhimento” e sobretudo de “cuidado da fragilidade” onde “se devolve a esperança” e se “lava a alma”.
“Somos peregrinos ao longo da vida, nas nossas ambições e desejos insaciáveis. A vida é uma manta de retalhos que desejamos e cosemos. Quantas histórias escondidas pelos passos apressados que damos, quantas páginas escondidas com o sangue, quantos infortúnios e maleitas que silenciosamente desaguam no santuário aos pés do Senhor entre gestos e preces ao Senhor Santo Cristo, quantas lágrimas derramadas em angústias e canseiras, quantas desventuras inesperadas foram lavadas no santuário, quantas pessoas por aqui passam e saem de alma” interpelou o sacerdote.
“O Santuário é sinal de que todos, os que mendigamos novos dias, temos um colo para nos cuidar, e são belos porque nos acolhem e nos acolhem na fragilidade dizendo-nos que Deus é nosso amigo e faz connosco aliança”, afirmou.
O Pe. José da Silva Lima começou por lembrar que a história dos santuários, e a deste em particular, é feita de “muitas vicissitudes”, mas é “sempre o Mesmo Senhor Santo Cristo e as marcas de Madre Teresa da Anunciada” que norteiam a vida deste lugar para de imediato sublinhar a necessidade de nos deixarmos contagiar pela atenção e misericórdia de Deus, algo que “sentimos num santuário”.
“A vida é uma aventura frágil” que carece sempre da atenção de Deus para quebrar “essa fragilidade” e permanentemente “cuidar” de nós de forma “constante mesmo quando nos perdemos”.
Utilizando uma linguagem metafórica, socorrendo-se da figura do oleiro lembrou que Deus “é paciente e cuidadoso”, procurando sempre evitar que nos quebremos. E o Santuário é como que o ateliê Desse Oleiro, onde “permanecemos, atraídos pelas mãos do oleiro”.
“Intempéries existem sempre mas precisamos de voltar à casa do Oleiro, escutar a sua palavra e ouvir no silêncio do coração o que nos quer dizer”, afirmou.
“Somos vasos frágeis, uns mais frágeis e outros, ainda, muito frágeis e por vezes esquecemos isso” imbuídos de uma certa ambição e arrogância, pensando que somos completamente autónomos. No entanto, “Momentos há em que experimentamos a nossa fragilidade, ou por doença, ou por um acidente ou por lapsos de ADN, por erros de diagnósticos” e por isso “todos precisamos de viver nas mãos do oleiro, sempre e para tal visitamos a sua casa. Há um sentido da palavra de Deus que se colhe apenas na oficina do oleiro e por isso precisamos de regressar ao santuário”.
“O poder não é nosso mas do Oleiro. O importante é que confiemos nas mãos do oleiro de forma absoluta”, disse ainda.
O sacerdote, que falou da sua própria experiência, depois de ter sido acometido por uma doença súbita, que o deixou fragilizado, destacou a importância da ciência e do cuidado humano , técnico e competente mas “sempre finito”, para depois sublinhar a importância desse cuidado ser sempre suportado por uma esperança que decorre de uma relação de confiança e de entrega ao amor de Deus.
“O homem e a mulher do nosso século envaidecem-se por obras que parecem deuses, mas isso não é bom. Precisamos de aprender a viver em autonomia segunda, a viver nas mãos do Oleiro, a viver em plena confiança”, enfatizou.
“A sociedade está repleta de sofrimento; a vida impõe-se deixando muitas mazelas, na esteira da vida acontecem desvios que não compreendemos mas não são fruto do acaso simples, sucedem exemplos menos razoáveis, mas sabemos que nunca compreendemos tudo. A abertura ao mistério da criação e da vida dá força aos cristãos”, concluiu.
Do programa festivo do 60º aniversário da criação do Santuário diocesano do Senhor Santo Cristo dos Milagres destaca-se a festa dos espinhos, que termina esta sexta feira, e uma celebração de ação de graças a 22 abril, no 60.º aniversário do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres da Diocese de Angra.
Para comemorar esta efeméride (22 de abril de 1959) realizam-se ainda várias atividades como um encontro de reitores dos santuários diocesanos dos Açores, a 24 de maio, e um simpósio nos dias 11 e 12 de julho, onde D. Carlos Azevedo, do Conselho Pontifício para a Cultura, da Santa Sé, aborda o tema «Viver em Cristo: Pleno humanismo de santidade».